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O CORDEL DO MINISTRO
Em meio ao festival de desatinos
éticos protagonizado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, dois
ministros que só participavam lateralmente do lamentável espetáculo
roubaram anteontem a cena ao envolver-se num deprimente bate-boca
que incluiu palavras de baixo calão e
ameaças dignas de colegiais.
Não é de hoje que o ministro das
Comunicações, Hélio Costa, vem fazendo lobby em favor do padrão japonês da TV digital. Já foi até criticado por esta Folha por não ser capaz
de arbitrar de forma isenta a disputa,
como a sua posição exigiria. Mas, se
Costa faltou para com a dignidade
do cargo, o titular da Cultura, Gilberto Gil, achincalhou a autoridade do
posto de ministro de Estado ao ler,
durante um evento público, um cordel em que seu colega das Comunicações é chamado de "empresário
boçal" defensor de monopólios e do
qual constam outros termos impublicáveis neste espaço.
A título de resposta, Costa referiu-se ao colega como "Gilberto vil", a
quem qualificou como "despreparado" e proferidor de "idiotices". Para
arrematar, desafiou o titular da Cultura a repetir o cordel diante da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma
Rousseff, que se viu, assim, à revelia
transformada numa espécie de fiscal
do gabinete Lula. Ontem, Gil emitiu
nota em que pede desculpas a Costa.
É saudável que existam divergências dentro de um governo. É fundamental, porém, que elas sejam resolvidas "intra muros" e com recurso a
argumentos e demonstrações racionais. Quando as disputas se dão
diante dos olhos do público e envolvem troca de insultos e palavrões, a
desmoralização é total.
Em outras paragens, uma manifestação dessa natureza resultaria na demissão sumária dos dois ministros.
No Brasil de Lula, porém, os descalabros são tamanhos e tão graves que a
demonstração de descompostura
dos titulares da Cultura e das Comunicações parece um episódio menor.
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