São Paulo, sábado, 31 de março de 2007

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FERNANDO GABEIRA

Do apagão às luzes

SEMPRE acreditei que poderíamos superar rapidamente o apagão aéreo. E planejar olhando aquilo que a crise revelou de melhor: a democratização do acesso a esse tipo de transporte.
No fim de novembro, afirmei que era preciso um gerente, com poderes especiais, para levar a cabo a tarefa. Havia muitos atores oficiais em jogo e uma discreta rivalidade entre eles.
Minha experiência era do apagão elétrico. Com um só gerente, quem era da oposição e tinha idéias podia, pelo menos, contribuir.
Passados quase seis meses, com as gavetas cheias de sugestões e denúncias, é triste constatar que se avançou tão pouco. A oposição, que aliás não nos acompanhou nos esforços de fim de ano, voltou com novos quadros. Ela quer uma CPI.
Não sei se a CPI é o melhor instrumento. A maneira como a sepultaram acaba nos forçando a defendê-la. A base do governo afirmou que não havia fato determinado. No meio de semana, o próprio Lula admitiu que as causas do apagão eram múltiplas. Se o próprio governo admite a existência do apagão de causas múltiplas, como culpar a oposição por não definir o fato determinante?
As perguntas de novembro continuam de pé. O sistema será misto ou civil? Se continuar misto, qual será o caminho para aumentar os salários? Os militares teriam uma gratificação? Ou seriam promovidos, como propus no final de ano, considerando a importância de seu ofício?
Quanto aos equipamentos, é preciso andar rápido. Como deixar que o centro de Curitiba use material com 20 anos de idade? Isso equivale a um século na tecnologia de comunicação.
Com tantos temas que nos sufocam no Brasil, é preciso voltar a este, porque as desculpas para as panes nos inquietam. Outro dia, um produtor brasileiro de software disse que ficava triste quando apontavam o programa como a causa das panes. Davam a impressão de que esses sistemas não têm redundância, o que é falso.
O episódio de Cumbica é importante. Dez dias para reparar um instrumento; mais tempo para testá-lo. O ministro mandou demitir os responsáveis, a Infraero disse que o responsável foi um raio.
Cá pra nos: vamos demitir logo esse raio, fixar um roteiro e resolver a parada. Podemos muito mais. O Brasil acumulou capacidade de gestão para resolver tarefas mais complicadas.
Na falta de um responsável com poderes, os conflitos internos no governo acabam produzindo uma visão cinzenta da realidade. Uma data final para resolver o problema, sem um claro plano de vôo, pode nos levar, de novo, aos atrasos.


assessoria@gabeira.com.br

FERNANDO GABEIRA
escreve aos sábados nesta coluna.


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