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FERNANDO GABEIRA
Do apagão às luzes
SEMPRE acreditei que poderíamos superar rapidamente
o apagão aéreo. E planejar
olhando aquilo que a crise revelou
de melhor: a democratização do
acesso a esse tipo de transporte.
No fim de novembro, afirmei que
era preciso um gerente, com poderes especiais, para levar a cabo a tarefa. Havia muitos atores oficiais
em jogo e uma discreta rivalidade
entre eles.
Minha experiência era do apagão
elétrico. Com um só gerente, quem
era da oposição e tinha idéias podia, pelo menos, contribuir.
Passados quase seis meses, com
as gavetas cheias de sugestões e denúncias, é triste constatar que se
avançou tão pouco. A oposição, que
aliás não nos acompanhou nos esforços de fim de ano, voltou com
novos quadros. Ela quer uma CPI.
Não sei se a CPI é o melhor instrumento. A maneira como a sepultaram acaba nos forçando a defendê-la. A base do governo afirmou que não havia fato determinado. No meio de semana, o próprio
Lula admitiu que as causas do apagão eram múltiplas. Se o próprio
governo admite a existência do
apagão de causas múltiplas, como
culpar a oposição por não definir o
fato determinante?
As perguntas de novembro continuam de pé. O sistema será misto
ou civil? Se continuar misto, qual
será o caminho para aumentar os
salários? Os militares teriam uma
gratificação? Ou seriam promovidos, como propus no final de ano,
considerando a importância de seu
ofício?
Quanto aos equipamentos, é preciso andar rápido. Como deixar que
o centro de Curitiba use material
com 20 anos de idade? Isso equivale a um século na tecnologia de comunicação.
Com tantos temas que nos sufocam no Brasil, é preciso voltar a este, porque as desculpas para as panes nos inquietam. Outro dia, um
produtor brasileiro de software
disse que ficava triste quando
apontavam o programa como a
causa das panes. Davam a impressão de que esses sistemas não têm
redundância, o que é falso.
O episódio de Cumbica é importante. Dez dias para reparar um
instrumento; mais tempo para testá-lo. O ministro mandou demitir
os responsáveis, a Infraero disse
que o responsável foi um raio.
Cá pra nos: vamos demitir logo
esse raio, fixar um roteiro e resolver a parada. Podemos muito mais.
O Brasil acumulou capacidade de
gestão para resolver tarefas mais
complicadas.
Na falta de um responsável com
poderes, os conflitos internos no
governo acabam produzindo uma
visão cinzenta da realidade.
Uma data final para resolver o
problema, sem um claro plano de
vôo, pode nos levar, de novo, aos
atrasos.
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta coluna.
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