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Centro ou teto?
A ALTA dos preços do petróleo, dos metais e dos alimentos impulsiona a inflação em nível global. Esse fator explica por que autoridades monetárias ao redor do globo vêm
elevando as taxas de juros.
Ao salientarem esse movimento de variados bancos centrais, os
diretores do Banco Central do
Brasil vêm omitindo um aspecto
importante. Nos países emergentes que, como o Brasil, adotam metas de inflação, os juros
foram aumentados quando a inflação e/ou as expectativas a respeito de sua evolução chegaram
à vizinhança da taxa máxima.
No Brasil, o centro da meta definida para 2008 e 2009 é uma
elevação de 4,5% do IPCA, admitindo-se taxa até dois pontos
percentuais mais alta ou mais
baixa. Logo, busca-se manter a
inflação na faixa de 2,5% a 6,5%.
De acordo com o levantamento
de expectativas do Banco Central, o mercado espera elevação
do IPCA de 4,44% neste ano e de
4,3% no próximo. No Relatório
de Inflação, divulgado na quinta,
o BC estimou que, sob a hipótese
de que os juros e a cotação do dólar evoluirão conforme espera o
mercado, o IPCA subirá 4,65%
este ano e 4,85% no próximo.
Todos esses números estão
bem mais perto do centro do que
do teto da meta. Chama a atenção, por isso, o fato de parcela do
mercado financeiro antecipar
que haverá um aumento da Selic
daqui a duas semanas. Certamente essa expectativa está associada ao tom bastante duro
que as autoridades monetárias
têm adotado em declarações.
Esse conservadorismo tem
fundamento e funcionalidade,
pois inibe as próprias expectativas de inflação. Resta saber se a
sua dosagem está adequada. Por
um lado, ameaças muito enfáticas que não são cumpridas podem desgastar a credibilidade de
quem as formula. Por outro,
cumprir já a ameaça de aumentar os juros significaria, na prática, tomar o centro da meta como
teto -e não se sabe se o governo
concedeu ao BC esse mandato.
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