São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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Centro ou teto?

A ALTA dos preços do petróleo, dos metais e dos alimentos impulsiona a inflação em nível global. Esse fator explica por que autoridades monetárias ao redor do globo vêm elevando as taxas de juros.
Ao salientarem esse movimento de variados bancos centrais, os diretores do Banco Central do Brasil vêm omitindo um aspecto importante. Nos países emergentes que, como o Brasil, adotam metas de inflação, os juros foram aumentados quando a inflação e/ou as expectativas a respeito de sua evolução chegaram à vizinhança da taxa máxima.
No Brasil, o centro da meta definida para 2008 e 2009 é uma elevação de 4,5% do IPCA, admitindo-se taxa até dois pontos percentuais mais alta ou mais baixa. Logo, busca-se manter a inflação na faixa de 2,5% a 6,5%.
De acordo com o levantamento de expectativas do Banco Central, o mercado espera elevação do IPCA de 4,44% neste ano e de 4,3% no próximo. No Relatório de Inflação, divulgado na quinta, o BC estimou que, sob a hipótese de que os juros e a cotação do dólar evoluirão conforme espera o mercado, o IPCA subirá 4,65% este ano e 4,85% no próximo.
Todos esses números estão bem mais perto do centro do que do teto da meta. Chama a atenção, por isso, o fato de parcela do mercado financeiro antecipar que haverá um aumento da Selic daqui a duas semanas. Certamente essa expectativa está associada ao tom bastante duro que as autoridades monetárias têm adotado em declarações.
Esse conservadorismo tem fundamento e funcionalidade, pois inibe as próprias expectativas de inflação. Resta saber se a sua dosagem está adequada. Por um lado, ameaças muito enfáticas que não são cumpridas podem desgastar a credibilidade de quem as formula. Por outro, cumprir já a ameaça de aumentar os juros significaria, na prática, tomar o centro da meta como teto -e não se sabe se o governo concedeu ao BC esse mandato.


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