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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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"Ora pro nobis"...

JOSÉ HENRIQUE REIS LOBO


É preciso ter em vista que as vitórias em SP também se devem à capacidade do PSDB de escolher bem os seus parceiros


FALEMOS francamente: para a maioria da população, não dá para pensar em ter mais uma administração do PT na cidade. Não sou eu que digo, são as pesquisas. Por isso é que temos a impressão de que o povo de São Paulo não permitirá que ressurjam os grandes vilões da história recente da nossa capital.
Mesmo o presidente da República, cujo prestígio sem dúvida é alto, embora conseguido à custa de um populismo obsceno, aparentemente não conseguirá reverter a situação francamente desfavorável do seu partido na cidade, onde já perdeu eleições em 2004 e 2006, para prefeito, para governador e presidente, um sinal de que, por conhecê-lo bem, o povo paulista não se deixa enganar.
Ao mesmo tempo, se há 14 anos o PSDB ganha as eleições nesse Estado, parece lícito inferir que isso só tem sido possível porque os governos tucanos têm dado respostas muito positivas aos anseios da população. Porém, é preciso não perder de vista que essas vitórias se devem também à capacidade do PSDB de escolher bem os seus parceiros não só para vencer os pleitos, como também para governar.
Agora, uma nova eleição se avizinha. A situação, no geral, não mudou. O PT continua mal avaliado, enquanto o PSDB mostra administrações bem-sucedidas no Estado e na Prefeitura de São Paulo.
É preciso, porém, que o partido e o seu tradicional aliado, o DEM, tenham humildade para compreender que, se se separarem, correm o risco de prestar um enorme desserviço a São Paulo, possibilitando o ressurgimento de pessoas, práticas e políticas sistematicamente rejeitadas. PSDB e DEM têm construído, juntos, uma trajetória de sucesso que não pode ser interrompida pela visão equivocada de que já são auto-suficientes para começar a escrever caminhos sem a companhia do outro.
Nesse caso, cometer-se-á um gravíssimo erro do qual poderão se arrepender amargamente, porque estarão pondo em perigo não só uma eleição que têm grande probabilidade de vencer, mas também um projeto político alternativo para o país, que os dois, juntos, terão condições de viabilizar.
Não há nenhuma questão substantiva que separe os dois nas eleições municipais. A percepção que ambos têm da gestão e dos problemas da cidade não apresenta divergências graves. Se há tantas coincidências que os aproximam, por que dar relevância às questões que poderiam separá-los?
Nem se diga que cada um deles tem um candidato próprio a prefeito e que isso é, na verdade, o grande complicador. Afinal, há mecanismos que, com racionalidade e boa vontade, podem ser escolhidos para definir uma candidatura única, que partam do pressuposto de que o melhor candidato é o com maior densidade eleitoral. Afinal, isso não pode ser desconsiderado quando se quer ganhar uma eleição.
Estabelecida a parceria, ela se refletiria na governança, em que os dois partidos estariam representados. Mais ainda: sejamos verdadeiros. Não nos enganemos nem pretendamos enganar o eleitor querendo lhe passar a idéia de que projetos pessoais não interferem nessas questões. Interferem, sim, e são muito fortes.
Lidamos com seres humanos que têm suas vaidades e suas ambições, e isso é legítimo. A política, como qualquer atividade humana, pressupõe a vontade de exercê-la. Só quem tem essa vontade e se prepara para ocupar mandatos públicos acaba realizando coisas importantes em prol da população. Não há por que condenar os que alimentam pretensões pessoais.
No caso específico, nem quanto a isso há conflitos inconciliáveis entre os pré-candidatos do PSDB e do DEM. Ambos já tiveram oportunidade de provar que estão aptos a exercer o cargo de prefeito ou outros que se disponham a disputar. São jovens, têm uma vida inteira pela frente e o mundo não acaba em outubro de 2008. O que precisam é se sintonizar com o desejo da sociedade, unir-se contra o adversário comum e redefinir seus horizontes, compatibilizando suas carreiras políticas com os interesses de curto, médio e longo prazos de São Paulo e do Brasil.
Recentemente, alertávamos que a disputa por causa de candidaturas poderá ter um final infeliz, que só o bom senso pode evitar. A imagem invocada era a de "West Side Story", em que duas turmas de jovens brigam pelo controle de um quarteirão nos subúrbios de Nova York. Para alguns, a simbologia era inadequada.
Transfiro então o cenário para a corte shakespeariana, onde as esgrimas entre Montecchios e Capuletos deixaram Julieta sem o amado e sem o irmão. Nas duas histórias, entoaram-se réquiens. Na nossa, quem sabe um "ora pro nobis", rezado enquanto é tempo, nos livre da tragédia anunciada.


JOSÉ HENRIQUE REIS LOBO , advogado especializado em direito administrativo e procurador aposentado, é secretário de Relações Institucionais do governo do Estado de São Paulo e presidente do Diretório Municipal do PSDB-SP. Foi presidente do Memorial da América Latina e assessor especial do governo de SP (gestão Alckmin).

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