São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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O futuro e a clandestinidade

CLÓVIS ROSSI
São Paulo - O leitor que me perdoe voltar a um assunto que jamais vai ganhar o Oscar de efeitos especiais (ou qualquer Oscar). Trata-se da Alca (Área de Livre Comércio das Américas, que deve englobar os 34 países americanos, excluída apenas Cuba).
É inacreditável que o Brasil se prepare para ser sócio (menor, é claro) da maior potência do planeta, os EUA, sem que haja uma formidável discussão nacional a respeito.
Não cheguei (ainda) ao delírio de imaginar as massas, nos terminais de ônibus da Baixada Fluminense ou de SP ou de BH, com faixas e cartazes "Alca, sim" ou "Alca, não". Mas não é aceitável que a sociedade organizada se omita.
É verdade que o empresariado já montou uma estrutura razoável para discutir a Alca. Mesmo assim, nada que se compare ao poder de fogo de seus pares norte-americanos. O sindicalismo também tem lá seu esquema, ainda na pré-infância.
Mas e as universidades, o Congresso Nacional, os partidos políticos?
Menos mal que a deputada Maria da Conceição Tavares (PT-RJ), em artigo na Folha de domingo, tenha tido a coragem, aliás típica nela, de dizer "não" à Alca e assinar embaixo. Muita gente, no empresariado e até no Itamaraty, gostaria de dizer a mesma coisa, mas parece sentir-se constrangida de correr o risco de ser chamada de "protecionista" ou coisa do gênero.
Em carta à Folha, o também petista Paulo Delgado (MG) sugere a criação de uma comissão tripartite (governo, empresários e trabalhadores) para "formar as posições da delegação brasileira".
É preciso acordar com urgência para a questão. O ano previsto para a Alca (2005) pode parecer longínquo demais. Não é. As negociações que darão rosto à Alca começam, na prática, em junho, na primeira reunião dos grupos negociadores recém-definidos. O que o Brasil será quando crescer (se vier a crescer algum dia) está sendo decidido agora. E na semiclandestinidade.



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