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O futuro e a clandestinidade
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - O leitor que me perdoe
voltar a um assunto que jamais vai
ganhar o Oscar de efeitos especiais (ou
qualquer Oscar). Trata-se da Alca
(Área de Livre Comércio das Américas, que deve englobar os 34 países
americanos, excluída apenas Cuba).
É inacreditável que o Brasil se prepare para ser sócio (menor, é claro) da
maior potência do planeta, os EUA,
sem que haja uma formidável discussão nacional a respeito.
Não cheguei (ainda) ao delírio de
imaginar as massas, nos terminais de
ônibus da Baixada Fluminense ou de
SP ou de BH, com faixas e cartazes
"Alca, sim" ou "Alca, não". Mas não é
aceitável que a sociedade organizada
se omita.
É verdade que o empresariado já
montou uma estrutura razoável para
discutir a Alca. Mesmo assim, nada
que se compare ao poder de fogo de
seus pares norte-americanos. O sindicalismo também tem lá seu esquema,
ainda na pré-infância.
Mas e as universidades, o Congresso
Nacional, os partidos políticos?
Menos mal que a deputada Maria
da Conceição Tavares (PT-RJ), em artigo na Folha de domingo, tenha tido
a coragem, aliás típica nela, de dizer
"não" à Alca e assinar embaixo. Muita gente, no empresariado e até no Itamaraty, gostaria de dizer a mesma
coisa, mas parece sentir-se constrangida de correr o risco de ser chamada de
"protecionista" ou coisa do gênero.
Em carta à Folha, o também petista
Paulo Delgado (MG) sugere a criação
de uma comissão tripartite (governo,
empresários e trabalhadores) para
"formar as posições da delegação brasileira".
É preciso acordar com urgência para
a questão. O ano previsto para a Alca
(2005) pode parecer longínquo demais. Não é. As negociações que darão
rosto à Alca começam, na prática, em
junho, na primeira reunião dos grupos
negociadores recém-definidos. O que o
Brasil será quando crescer (se vier a
crescer algum dia) está sendo decidido
agora. E na semiclandestinidade.
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