São Paulo, terça, 31 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O que não mata engorda

ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Que o juízo e o bom senso impeçam José Serra de anunciar mais uma comissão de alto nível para discutir a dengue, quando tomar posse hoje, ao meio-dia, no Ministério da Saúde. Não há mais o que discutir. Só há o que fazer.
Em 18 de junho de 1996, lá se vão quase dois anos, FHC criou por decreto presidencial duas comissões para erradicar o Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue e da febre amarela urbana.
Essas comissões tinham (ou teriam) integrantes de dez ministérios, inclusive da Fazenda e dos três militares, para executar e avaliar um tal "Plano Diretor de Erradicação do Aedes aegypti do Brasil" -que, de tão chique, foi parar no site do Itamaraty na Internet: http://www.mre.gov.br. Sabem como é: para inglês ver.
O tempo passou. O país está infestado de Aedes, e até o Rio, tomado pela dengue. Mas o texto "Erradicação do mosquito da dengue e da febre amarela urbana no Brasil" continua lá, nesse site, badalando em quatro línguas como o plano é (ou era) "ambicioso, inovador e ousado".
Segundo o texto, a guerra contra o Aedes receberia de 96 a 99 cerca de R$ 4,5 bilhões, ou R$ 1,5 bilhão ao ano, o que é equivalente a menos de 10% dos recursos para saúde e saneamento (R$ 55,7 bilhões), mas ainda assim uma ótima bolada.
Como publicado aqui na quinta-feira, porém, o orçamento para a dengue em 97 era de R$ 440 milhões, e só foram efetivamente liberados R$ 248 milhões. O resto o mosquito comeu -e engordou.
Então, temos vários vexames: o governo inventou um plano mirabolante; criou duas supercomissões de araque; prometeu via Internet erradicar o Aedes; não usou os recursos previstos. Acabou derrotado pela dengue.
Agora, todo cuidado é pouco. Como diz o documento, o Aedes não transmite apenas a dengue. Transmite também a febre amarela urbana. Sinceramente, só nos falta mais essa.

Atenção, galera: a CCJ da Câmara julga hoje o pedido de cassação do deputado Sérgio Naya, aquele dos prédios que matam e das fitas que denunciam.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.