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O que não mata engorda
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Que o juízo e o bom senso
impeçam José Serra de anunciar mais
uma comissão de alto nível para discutir a dengue, quando tomar posse
hoje, ao meio-dia, no Ministério da
Saúde. Não há mais o que discutir. Só
há o que fazer.
Em 18 de junho de 1996, lá se vão
quase dois anos, FHC criou por decreto presidencial duas comissões para
erradicar o Aedes aegypti, o mosquito
transmissor da dengue e da febre
amarela urbana.
Essas comissões tinham (ou teriam)
integrantes de dez ministérios, inclusive da Fazenda e dos três militares,
para executar e avaliar um tal "Plano
Diretor de Erradicação do Aedes
aegypti do Brasil" -que, de tão chique, foi parar no site do Itamaraty na
Internet: http://www.mre.gov.br. Sabem como é: para inglês ver.
O tempo passou. O país está infestado de Aedes, e até o Rio, tomado pela
dengue. Mas o texto "Erradicação do
mosquito da dengue e da febre amarela urbana no Brasil" continua lá, nesse site, badalando em quatro línguas
como o plano é (ou era) "ambicioso,
inovador e ousado".
Segundo o texto, a guerra contra o
Aedes receberia de 96 a 99 cerca de R$
4,5 bilhões, ou R$ 1,5 bilhão ao ano, o
que é equivalente a menos de 10% dos
recursos para saúde e saneamento (R$
55,7 bilhões), mas ainda assim uma
ótima bolada.
Como publicado aqui na quinta-feira, porém, o orçamento para a dengue
em 97 era de R$ 440 milhões, e só foram efetivamente liberados R$ 248
milhões. O resto o mosquito comeu
-e engordou.
Então, temos vários vexames: o governo inventou um plano mirabolante; criou duas supercomissões de araque; prometeu via Internet erradicar o
Aedes; não usou os recursos previstos.
Acabou derrotado pela dengue.
Agora, todo cuidado é pouco. Como
diz o documento, o Aedes não transmite apenas a dengue. Transmite
também a febre amarela urbana. Sinceramente, só nos falta mais essa.
Atenção, galera: a CCJ da Câmara julga hoje o pedido de cassação do deputado Sérgio Naya, aquele dos prédios
que matam e das fitas que denunciam.
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