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EUFORIA PRECIPITADA
Seria um exagero comparar a intensidade do pânico provocado pela crise cambial, em vários momentos ao
longo dos últimos meses, com a da
incipiente euforia que parece dominar os mercados financeiros nesse
momento. Mas pelo menos uma coisa é comum aos dois fenômenos: a
falta de fundamentos mais sólidos.
Era descabido imaginar que uma
correção cambial pudesse levar a
economia brasileira ao caos. Mas é
ingênuo acreditar que basta que essa
correção tenha ocorrido sem uma
ruptura maior para que se garanta
um horizonte mais promissor.
A percepção de que o otimismo,
nesse momento, pode ser exagerado
foi registrada pelo próprio ministro
da Fazenda, Pedro Malan. E o Banco
Central tem procurado evitar uma redução mais rápida no valor do dólar.
O teste decisivo virá somente quando as taxas de juros puderem voltar a
um nível razoável. Por enquanto, há
sem dúvida uma onda de retorno de
recursos que estavam investidos no
exterior. Mas é uma arribação motivada por juros altos e pela redução na
tributação sobre a repatriação de capitais. Sem melhoras consistentes na
economia, esses recursos serão novamente perdidos.
Os indicadores de inflação, que
transmitem por ora a sensação de
que os custos do ajuste não foram tão
elevados, devem ser interpretados
com cautela. Primeiro, porque a recessão que reprime a inflação não
pode ser mantida indefinidamente.
Resultados positivos nessa área, no
curto prazo, são necessários, mas
não suficientes para evitar, mais à
frente, um repique inflacionário caso
haja maior espaço para transferir aos
preços finais de bens e serviços os
custos do ajuste econômico que, a rigor, mal começou.
A situação pode ser resumida numa
imagem hospitalar: o paciente (a
economia brasileira) está suportando bem a fase pós-cirúrgica, mas ainda não pode sair da UTI.
A questão fundamental do país, o
financiamento ao crescimento sem
pressionar a inflação nem depender
demais de capitais externos, continua completamente em aberto.
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