São Paulo, Quarta-feira, 31 de Março de 1999
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EUFORIA PRECIPITADA

Seria um exagero comparar a intensidade do pânico provocado pela crise cambial, em vários momentos ao longo dos últimos meses, com a da incipiente euforia que parece dominar os mercados financeiros nesse momento. Mas pelo menos uma coisa é comum aos dois fenômenos: a falta de fundamentos mais sólidos.
Era descabido imaginar que uma correção cambial pudesse levar a economia brasileira ao caos. Mas é ingênuo acreditar que basta que essa correção tenha ocorrido sem uma ruptura maior para que se garanta um horizonte mais promissor.
A percepção de que o otimismo, nesse momento, pode ser exagerado foi registrada pelo próprio ministro da Fazenda, Pedro Malan. E o Banco Central tem procurado evitar uma redução mais rápida no valor do dólar.
O teste decisivo virá somente quando as taxas de juros puderem voltar a um nível razoável. Por enquanto, há sem dúvida uma onda de retorno de recursos que estavam investidos no exterior. Mas é uma arribação motivada por juros altos e pela redução na tributação sobre a repatriação de capitais. Sem melhoras consistentes na economia, esses recursos serão novamente perdidos.
Os indicadores de inflação, que transmitem por ora a sensação de que os custos do ajuste não foram tão elevados, devem ser interpretados com cautela. Primeiro, porque a recessão que reprime a inflação não pode ser mantida indefinidamente.
Resultados positivos nessa área, no curto prazo, são necessários, mas não suficientes para evitar, mais à frente, um repique inflacionário caso haja maior espaço para transferir aos preços finais de bens e serviços os custos do ajuste econômico que, a rigor, mal começou.
A situação pode ser resumida numa imagem hospitalar: o paciente (a economia brasileira) está suportando bem a fase pós-cirúrgica, mas ainda não pode sair da UTI.
A questão fundamental do país, o financiamento ao crescimento sem pressionar a inflação nem depender demais de capitais externos, continua completamente em aberto.


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