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Torneio de indignação
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Logo cedo, um leitor,
muito gentil, telefona para desabafar
a sua indignação com o asilo concedido pelo Brasil ao ex-presidente paraguaio Raúl Cubas.
De fato, o cenário mostrado na foto
da capa desta Folha ontem só reforça
o estereótipo de filme B norte-americano, segundo o qual todo delinquente foge para o Brasil (será que é estereótipo mesmo?). Não que Cubas possa, sem julgamento, ser chamado de
delinquente, mas que enfrenta pesada
acusação em seu país, lá isso enfrenta.
De todo modo, o Brasil parece ter
entrado em um torneio de material
para indignação. Se eu tivesse que escolher, na Folha de ontem, ficaria com
duas outras questões, a saber:
1 - a informação de que o Banco
Central apostou -e perdeu- R$ 7,6
bilhões, em janeiro e fevereiro, em seu
jogo contra a desvalorização do real.
Nada contra apostas, desde que legais. Mas apostar com "o meu dinheiro, o seu dinheiro, o nosso dinheiro",
como já admitiu até o presidente do
BC, Armínio Fraga, é insuportável.
Não vai acontecer nada com esses
apostadores de dinheiro alheio?;
2 - o artigo do presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
Dirceu de Mello. Nele, a mais alta autoridade do Poder Judiciário no Estado diz que "chega a ser motivo de orgulho" o fato de o senador Antonio
Carlos Magalhães ter apontado apenas quatro casos de irregularidades
no Judiciário paulista.
Até entendo o que Dirceu de Mello
quis dizer. Para uma corporação de
2.000 juízes, parece de fato pouco terem sido apontadas apenas quatro irregularidades.
Mas é demais dizer que "chega a ser
motivo de orgulho" haver irregularidades, uma que fosse, na instituição
incumbida exatamente de puni-las.
É um retrato nítido de como o país,
em todas as suas instâncias, reduziu o
nível de expectativas. Em vez de lamentar que haja irregularidades (não
importa quantas), o Judiciário orgulha-se de que sejam poucas as apontadas (podem não ser as únicas, aliás).
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