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ERRO E TRAGÉDIA EM KOSOVO
Oito dias de bombardeios a instalações e posições sérvias, na Iugoslávia, acabaram por produzir um efeito
oposto ao que os Estados Unidos e
seus aliados da Otan desde o início
afirmavam objetivar.
A operação militar foi desencadeada para forçar o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, a respeitar a
integridade física e cultural da população de origem albanesa, majoritária na província sérvia de Kosovo.
Denúncias que partem agora da
própria Otan indicam estar ocorrendo genocídio, acompanhado de um
movimento de migração maciça de
uma população obrigada, para salvar
a própria vida, a se refugiar na Albânia e em Montenegro.
O fato de o roteiro da Otan não se
ter confirmado não chega a surpreender. Antes mesmo que se lançassem os primeiros mísseis e bombas, foram retirados da região os observadores que tinham por missão
constranger os sérvios a não adotar
soluções mais radicais. Com o campo livre, os grupos de extermínio sérvios não encontraram obstáculo
maior para cumprir sua missão, aliás
efetuada sob o pretexto de eliminar
guerrilheiros, recrutados na população de origem albanesa, que se batem pela independência de Kosovo.
Não há ainda, por enquanto, indícios de que poderá chegar a bom termo a mediação, iniciada ontem, pelo
primeiro-ministro russo, Ievguêni
Primakov. Ele se dispõe a obter de
Milosevic concessões que possam levar a Otan a interromper os bombardeios. Russos e sérvios têm antigas
afinidades baseadas em raízes eslavas que lhes são comuns.
O fato é que a operação militar teve
como vício de origem a iniciativa de
uma superpotência que se atribuiu o
poder de funcionar como polícia planetária, demonstrando mais disposição para a exibição da força do que
para a persistência nos recursos mais
civilizados da diplomacia.
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