São Paulo, Quarta-feira, 31 de Março de 1999
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ERRO E TRAGÉDIA EM KOSOVO

Oito dias de bombardeios a instalações e posições sérvias, na Iugoslávia, acabaram por produzir um efeito oposto ao que os Estados Unidos e seus aliados da Otan desde o início afirmavam objetivar.
A operação militar foi desencadeada para forçar o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, a respeitar a integridade física e cultural da população de origem albanesa, majoritária na província sérvia de Kosovo.
Denúncias que partem agora da própria Otan indicam estar ocorrendo genocídio, acompanhado de um movimento de migração maciça de uma população obrigada, para salvar a própria vida, a se refugiar na Albânia e em Montenegro.
O fato de o roteiro da Otan não se ter confirmado não chega a surpreender. Antes mesmo que se lançassem os primeiros mísseis e bombas, foram retirados da região os observadores que tinham por missão constranger os sérvios a não adotar soluções mais radicais. Com o campo livre, os grupos de extermínio sérvios não encontraram obstáculo maior para cumprir sua missão, aliás efetuada sob o pretexto de eliminar guerrilheiros, recrutados na população de origem albanesa, que se batem pela independência de Kosovo.
Não há ainda, por enquanto, indícios de que poderá chegar a bom termo a mediação, iniciada ontem, pelo primeiro-ministro russo, Ievguêni Primakov. Ele se dispõe a obter de Milosevic concessões que possam levar a Otan a interromper os bombardeios. Russos e sérvios têm antigas afinidades baseadas em raízes eslavas que lhes são comuns.
O fato é que a operação militar teve como vício de origem a iniciativa de uma superpotência que se atribuiu o poder de funcionar como polícia planetária, demonstrando mais disposição para a exibição da força do que para a persistência nos recursos mais civilizados da diplomacia.


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