São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2005

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VALDO CRUZ

Governo paralelo

BRASÍLIA - Em tempos de CPI dos Correios, a oposição cutuca o governo ao espalhar que o temor do Palácio do Planalto é surgir algo que envolva dois petistas graúdos nos escândalos do momento: o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, e o tesoureiro do partido, Delúbio Soares.
Antes de tudo, é bom que se diga, até aqui não há nada que prove ou mesmo aponte indícios claros de que os dois possam estar envolvidos em negócios escusos.
Após essa ressalva, porém, algo é, no mínimo, intrigante e ajuda a reforçar a tese da oposição: as últimas declarações de Silvinho, como é mais conhecido, tornaram público que ele e Delúbio Soares negociavam cargos no governo Lula.
Isso mesmo, negociavam a partilha de postos na administração petista, mesmo não sendo funcionários nomeados pelo presidente. E combinavam não só os carguinhos do PT -o que já seria estranho- mas também os de outros partidos.
Pelo menos foi o que disse Silvinho à repórter Fernanda Krakovics: "Participei com o [presidente do PT, José] Genoino e o Delúbio da nomeação de cargos para o governo até o dia 16 de dezembro de 2003. De lá para cá, não participei mais de nenhuma negociação sobre cargos".
Na mesma conversa, Silvinho comenta um acerto de cargo feito com o senador Fernando Bezerra (PTB-RN). "A gente tinha essa pendência [com o senador], sim, em 2003. A partir daí não sei, porque já não encaminhei, não negociei".
Silvinho faz questão de dizer que já não participa mais do processo desde o início de 2004. Tudo bem, vamos acreditar na versão do petista até que se prove o contrário.
Mesmo assim, é realmente estranho um secretário e um tesoureiro do PT negociarem o toma-lá-dá-cá do governo Lula. É, para não dizer outra coisa, caso explícito de conflito de interesses e de promiscuidade.


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