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CLÓVIS ROSSI
Aconchego
SÃO PAULO - A notícia de que a
Varig vai a leilão no dia 5 causou
uma sensação de desconforto. Talvez porque no dia 5 desembarco de
um avião da Varig em Munique para me integrar à equipe da Folha
que cobrirá a Copa do Mundo.
Talvez porque é mais um símbolo que se apaga, mais uma marca
das minhas memórias que se vai.
Tudo bem que a Varig poderá até
continuar existindo com esse nome, mas não será a mesma. Varig,
pelo menos para a pequena fatia da
minha geração que conseguiu ganhar asas e voar, era uma espécie
de casa da gente no ar.
No vôo mais recente (Frankfurt-São Paulo, dia 16), ao tocar o solo, o
piloto não apenas anunciou a chegada como entoou um hino de
amor à tripulação, que, de fato, tivera um desempenho extraordinário, mais ainda em se considerando
as penosas circunstâncias em que
trabalham. Os aviões podem estar
com problemas, o material para o
serviço já não é o mesmo, mas as
tripulações resistem bravamente.
Por falar em ganhar asas, devo-as, como já contei aqui, à escola pública, outra marca que sumiu como
referência. Nós que a freqüentamos
não tínhamos medo nenhum de
competir com a "elite branca" malvada, segundo o governador Cláudio Lembo. Se nos tornamos iguais
ou piores que ela depois, culpa nossa, não da escola.
Sumiu também o Mappin, loja de
referência obrigatória, onde minha
mãe comprava o material para os
adornos de noivas (buquês, grinaldas etc.) que produzia em casa para
fazer o mês ficar só um pouco
maior que o salário de meu pai. Admito que acompanhá-la compulsoriamente ao Mappin era um porre,
mas ao menos dava a sensação de
que, enquanto o Mappin existisse,
existiria uma certa São Paulo, um
certo aconchego.
Hoje, ao contrário, partir é que
dá aconchego. Pena.
@ - crossi@uol.com.br
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