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CLÓVIS ROSSI
O cassino e a comida
ROMA - O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva chega hoje a Roma para descansar e, ao mesmo tempo,
comemorar seus 34 anos de casamento com Marisa Letícia. Depois,
na terça-feira, defende o etanol brasileiro da suposição de que seja um
dos responsáveis pela disparada
dos preços dos alimentos, que o
economista Jeffrey Sachs considera a primeira crise planetária não-financeira da era da globalização.
Terça-feira é o dia em que se
inaugura uma cúpula sobre segurança alimentar e mudança climática que acabou se transformando em
uma "cúpula da fome", dado que,
entre sua convocação e sua realização, os preços da comida dispararam e acenderam o alarme.
Lula faz bem tanto em descansar
e festejar o casamento como em defender o etanol brasileiro, que não
tem culpa da chamada "agflação", a
inflação dos bens agrícolas.
Mas faria um bem maior se também atacasse uma das causas do fenômeno, esta, sim, verdadeira. Trata-se da especulação, que se voltou
para o mercado de alimentos.
Numa belíssima reportagem de
Mauro Zafalon, a Folha mostrou,
faz pouco, como funciona a coisa.
Resumo básico: "Em 2007, o mercado futuro agrícola da Chicago
Board of Trade negociou 7,3 bilhões de toneladas de milho, 4,3 bilhões de soja e 2,7 bilhões de trigo.
A produção física desses produtos,
em 2007, foi de 780 milhões, 220
milhões e 606 milhões de toneladas, respectivamente. Volumes
maiores de negociações esquentaram os preços, que passaram a ter
variações bruscas, chamadas pelo
mercado de "volatilidade". Essas oscilações seguem entradas e saídas
dos fundos e trazem riscos".
A rigor, são riscos não diferentes,
na essência, dos que causaram a
crise das hipotecas "sub prime".
Falta regulação do Estado, sobra
poder aos mercados. Pagam pelo
menos 1 bilhão de pessoas, as mais
pobres, que já comiam pouco e vão
comer menos.
crossi@uol.com.br
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