São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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O PREÇO DA IMPERÍCIA

Num momento em que se discute a oportunidade de adotar ou não no Brasil um exame de habilitação para formandos em medicina, é interessante tentar estimar o custo humano de profissionais despreparados. Estudo recém-divulgado pela empresa norte-americana HealthGrades Inc. sugere que 195 mil pessoas morram por ano em hospitais dos EUA devido a erros médicos preveníveis. O trabalho considerou internações pelo Medicare (equivalente ao SUS) realizadas entre 2000 e 2002.
Esse número precisa, é claro, ser relativizado. Nem todas as falhas podem ser atribuídas à má formação profissional. Também contribuem para essa macabra estatística rotinas mal feitas e erros de procedimento. Um outro estudo, de 1999, realizado pelo Instituto de Medicina, uma associação independente ligada à Academia Nacional de Ciências dos EUA, indicou que até 98 mil pessoas por ano morriam por causas iatrogênicas, ou seja, relacionadas ao atendimento médico.
Os erros mais freqüentes apontados na pesquisa do Instituto foram ministrar medicamento incorreto ou em dose inadequada. No trabalho da HealthGrades, que usou critérios mais amplos, também foram consideradas falhas no resgate de doentes e mortes de pacientes de baixo risco por infecções hospitalares.
Pelo estudo da HealthGrades, se erros médicos aparecessem nas estatísticas oficiais dos EUA como "causa mortis", elas ocupariam a sexta posição, à frente de doenças como diabetes, pneumonia, mal de Alzheimer e moléstias renais.
Não se pode, é claro, transpor a situação norte-americana para o Brasil. Se é razoável supor que o pessoal de saúde aqui formado tenha na média um nível inferior ao dos EUA, também é certo que, no Brasil, o menor acesso da população a serviços médicos limita a possibilidade de erros, ainda que leve a conseqüências piores. De qualquer forma, falhas preveníveis são, por definição, evitáveis. Cumpre, portanto, tomar as medidas necessárias para reduzi-las e, idealmente, extingui-las. O exame de habilitação para médicos poderia ser um bom começo.


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