São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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O MARKETING DE KERRY

Campanhas eleitorais, no Brasil ou nos EUA, são verdadeiros eventos de marketing. A convenção democrata, realizada em Boston, que em outros tempos servia para definir quem concorreria à Presidência dos EUA pelo partido, não foi senão um roteiro diligente e meticulosamente planejado para conquistar mais alguns pontos nas pesquisas de intenção de voto. Desta vez como da anterior, nem mesmo a indicação do vice foi guardada como surpresa -pois o nome de John Edwards já era conhecido.
É nesse contexto que se deve analisar o discurso proferido pelo senador John Kerry. Trata-se de uma peça de propaganda que tenta dar respostas àquilo que as pesquisas apontam como os maiores pontos fracos do candidato. Assim, para contrapor-se à imagem de liberal ("esquerdista", no vocabulário político americano), Kerry defendeu ataques preventivos, disse que derrotaria os terroristas e fez uso de palavras de ordem e até de imagens tipicamente republicanas.
Em termos políticos, o postulante deu todos os indícios de que chegou a hora de dirigir sua campanha para o centro. O raciocínio é o de que ele já tem os votos dos setores mais à "esquerda" da sociedade, assim como seu rival, o presidente George W. Bush, conta com a simpatia da ala mais conservadora. Como ambas as fileiras têm mais ou menos o mesmo tamanho, vencerá aquele que conquistar mais simpatizantes entre os eleitores que olham mais para os candidatos e menos para o partido.
Como a disputa tende a ser acirrada, Kerry não poupou a atual administração de críticas pesadas, afirmando que, sob Bush, a Casa Branca perdeu confiança e credibilidade, as quais ele se propõe a resgatar. Para um discurso desse tipo, cuidadosamente elaborado com o auxílio da mais moderna tecnologia do marketing, John Kerry, tido como distante e aborrecido, não se saiu mal. Resta saber se vai conseguir o mesmo quando tiver de atuar sem script, na campanha de rua e nos debates.


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