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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Inácio de Loyola
Os santos, homens e mulheres,
marcam a história com sinais fortes da presença de Deus. Pela intensa
experiência de oração que os caracteriza, permanecem no mais profundo
da consciência em comunhão com
Deus. Neles, a impressão de vazio, fruto do monólogo em que tantas vezes
nos fechamos, é superada.
Há uma diferença básica entre a atividade cognoscitiva e reflexiva dos filósofos e a vivência de quem recebe a
graça da presença e do diálogo constante com o próprio Deus, fonte de vida e de descoberta de valores.
Não nos admira, portanto, que os
santos conheçam melhor do que nós,
pela fé e pelo amor, os desígnios de
Deus, revelados em Jesus Cristo, e descubram caminhos de discernimento
espiritual para si e para os outros. Basta recordar os mestres de vida espiritual como São João da Cruz e Santa
Teresa de Jesus e as lições de vida de
São Francisco de Assis, São Domingos
e Santa Catarina de Sena, cujo testemunho e escritos servem de orientação segura para o seguimento de Jesus. É nesse contexto que desejamos
lembrar a vida e o ensinamento de
Inácio de Loyola, cuja festa celebramos neste dia 31 de julho.
Nascido em 1491, Inácio era homem
da corte, que sonhava com ideais de
riqueza e de poder. Ao defender a cidade de Pamplona contra os invasores, ficou ferido e, por longos meses,
teve de se submeter a penosos tratamentos. Foi em meio às dores e ao silêncio que se dedicou à leitura da vida
de Cristo e dos santos. O encontro
profundo com Jesus Cristo marcou
sua conversão e a descoberta dos valores do Reino de Deus, que passaram a
animar toda sua vida.
Podemos hoje refazer o seu itinerário graças ao pequeno e abençoado livro "Exercícios Espirituais", que, desde então, ajuda tantas pessoas a aproximarem-se de Deus, a seguirem com
entusiasmo Jesus Cristo e a discernirem o melhor modo de conhecer e
cumprir com amor a vontade divina.
No seu legado espiritual, a descoberta profunda foi o conhecimento vital
de Deus e do desígnio divino da salvação. Nasce em Inácio a paixão pela
"glória de Deus", pela plena manifestação de seu plano de amor em Jesus
Cristo. Segue-se, então, a conversão
axiológica, isto é, a relativização de
ideais que antes o atraíam, como a
ambição de se tornar famoso e ocupar
lugar de destaque na corte.
Inácio, a exemplo do apóstolo Paulo,
consagra inteiramente sua vida a Jesus
e à proclamação, neste mundo, dos
valores do Reino de Cristo. Reúne
amigos. Funda a Companhia de Jesus,
a Ordem dos Jesuítas. Coloca-se a serviço da Igreja e lança-se incansavelmente à missão de anunciar a Boa Nova da salvação, o perdão dos pecados e
a vida plena que Jesus nos comunica.
Conhecemos o dinamismo e a coragem que Inácio transmite até hoje a
seus companheiros no seguimento de
Jesus.
Na atmosfera confusa de nossos
dias, em que valores e desvalores se
misturam a desafiar o nosso discernimento, ajuda muito recordar o itinerário espiritual de homens e de mulheres que, ao encontrar Deus, souberam deixar o fogo-fátuo e a miragem
atraente dos bens ilusórios e enamorar-se da beleza eterna do bem e da
verdade.
É essa conversão que também nós
precisamos fazer, e sem a qual não haverá a nova ordem sócio-política da
justiça, do perdão e da paz que desejamos construir.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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