São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Inácio de Loyola

Os santos, homens e mulheres, marcam a história com sinais fortes da presença de Deus. Pela intensa experiência de oração que os caracteriza, permanecem no mais profundo da consciência em comunhão com Deus. Neles, a impressão de vazio, fruto do monólogo em que tantas vezes nos fechamos, é superada.
Há uma diferença básica entre a atividade cognoscitiva e reflexiva dos filósofos e a vivência de quem recebe a graça da presença e do diálogo constante com o próprio Deus, fonte de vida e de descoberta de valores.
Não nos admira, portanto, que os santos conheçam melhor do que nós, pela fé e pelo amor, os desígnios de Deus, revelados em Jesus Cristo, e descubram caminhos de discernimento espiritual para si e para os outros. Basta recordar os mestres de vida espiritual como São João da Cruz e Santa Teresa de Jesus e as lições de vida de São Francisco de Assis, São Domingos e Santa Catarina de Sena, cujo testemunho e escritos servem de orientação segura para o seguimento de Jesus. É nesse contexto que desejamos lembrar a vida e o ensinamento de Inácio de Loyola, cuja festa celebramos neste dia 31 de julho.
Nascido em 1491, Inácio era homem da corte, que sonhava com ideais de riqueza e de poder. Ao defender a cidade de Pamplona contra os invasores, ficou ferido e, por longos meses, teve de se submeter a penosos tratamentos. Foi em meio às dores e ao silêncio que se dedicou à leitura da vida de Cristo e dos santos. O encontro profundo com Jesus Cristo marcou sua conversão e a descoberta dos valores do Reino de Deus, que passaram a animar toda sua vida.
Podemos hoje refazer o seu itinerário graças ao pequeno e abençoado livro "Exercícios Espirituais", que, desde então, ajuda tantas pessoas a aproximarem-se de Deus, a seguirem com entusiasmo Jesus Cristo e a discernirem o melhor modo de conhecer e cumprir com amor a vontade divina.
No seu legado espiritual, a descoberta profunda foi o conhecimento vital de Deus e do desígnio divino da salvação. Nasce em Inácio a paixão pela "glória de Deus", pela plena manifestação de seu plano de amor em Jesus Cristo. Segue-se, então, a conversão axiológica, isto é, a relativização de ideais que antes o atraíam, como a ambição de se tornar famoso e ocupar lugar de destaque na corte.
Inácio, a exemplo do apóstolo Paulo, consagra inteiramente sua vida a Jesus e à proclamação, neste mundo, dos valores do Reino de Cristo. Reúne amigos. Funda a Companhia de Jesus, a Ordem dos Jesuítas. Coloca-se a serviço da Igreja e lança-se incansavelmente à missão de anunciar a Boa Nova da salvação, o perdão dos pecados e a vida plena que Jesus nos comunica. Conhecemos o dinamismo e a coragem que Inácio transmite até hoje a seus companheiros no seguimento de Jesus.
Na atmosfera confusa de nossos dias, em que valores e desvalores se misturam a desafiar o nosso discernimento, ajuda muito recordar o itinerário espiritual de homens e de mulheres que, ao encontrar Deus, souberam deixar o fogo-fátuo e a miragem atraente dos bens ilusórios e enamorar-se da beleza eterna do bem e da verdade.
É essa conversão que também nós precisamos fazer, e sem a qual não haverá a nova ordem sócio-política da justiça, do perdão e da paz que desejamos construir.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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