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CARLOS HEITOR CONY
Laranjas e arapongas
RIO DE JANEIRO - Não se deve culpar o atual governo pela esburacada estrutura que vigora nos dias de hoje. O
cupim que devorou a carnação do
poder instalou-se na gestão anterior,
que, além dos petiscos que oferece à
gula dos empreiteiros (estradas,
obras, usinas, viadutos etc.), descolou
a imensa boca-livre das privatizações, que logo de estalo enriqueceram
os intermediários, os corretores de informações e lobistas de todos os tamanhos e feitios.
A curiosa miscelânea de laranjas e
arapongas criou uma espécie de governo paralelo no que diz respeito ao
martelo final das grandes e médias licitações, dos aglomerados e conglomerados disso e daquilo. Gente que
está se lixando para o poder político
em si, deixando-o aos profissionais
que se esbofam para vencer eleições,
saciar os partidos aliados e, ainda
por cima, oferecendo a frágil vitrine
de vidro aos estilingues da oposição e
da mídia.
O caso da espionagem de uma
agência estrangeira em negócios internos de nossa economia é apenas
um momento na sucessão de outros
negócios que envolvem interesses que
não os nacionais. É um mercado que
se abriu à cobiça de empresários daqui e dali, abastecidos pelos arapongas que fuçam a carniça que resulta
de um Estado bichado como o nosso,
e representados por laranjas notórios
ou clandestinos.
Um país estatizante como o nosso,
até há pouco, quando se dispõe a leiloar os principais canais de sua economia, evidentemente se transforma
no paraíso de plantão, no "point" da
ocasião que atrai todas as moscas.
Apesar disso, não se pode inocentar
de todo a estrutura visível e legal do
governo, que, de uma forma ou outra, se torna cúmplice ativo ou passivo das complicadas etapas do conluio
de laranjas e arapongas.
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