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CLÓVIS ROSSI
Os búzios estão de volta
SÃO PAULO - Paulo Skaf, o presidente da Fiesp, acha "precipitado"
decretar o fim da crise. Não tenho a
mais remota ideia se é ou não. Mas
tenho a mais absoluta certeza, aliás
uma das minhas raríssimas certezas, de que é precipitado, insano
mesmo, acreditar em previsões sobre a economia.
Os exemplos de fracassos dos adivinhos são incontáveis. O mais recente deles é o caso Vale. Os analistas, informa a Folha, previam um
lucro, no segundo trimestre, de entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões.
Deu R$ 1,466 bilhão.
Não é um errinho trivial, certo?
Não é que os analistas imaginassem
R$ 1,6 bilhão e tenha dado R$ 1,4 bilhão. É um erro colossal. Deu um
terço do previsto pelos analistas,
pouco mais, pouco menos.
Só se surpreende com o erro
quem quer. A rainha da Inglaterra,
por exemplo, surpreendeu-se com
a eclosão da crise e, durante visita
à mitológica London School of
Economics, perguntou como era
possível que viesse tamanho tsunami sem que ninguém avisasse.
Pois bem, agora Tim Besley, professor da LSE, mandou carta à rainha tentando explicar o inexplicável. Diz, entre outras coisas, que
"otimismo excessivo misturado à
arrogância convenceram os gênios
das finanças de que eles haviam
criado uma maneira de diluir riscos
no mercado financeiro". Acrescenta: "O fracasso foi não ver, de forma
coletiva, como isso se somava a
uma série de desequilíbrios sobre
os quais nenhuma autoridade central tinha jurisdição".
Pois é, o fracasso subiu à cabeça
de incontáveis economistas, analistas, consultores, o diabo, que continuam a jogar seus búzios sem parar
(e os jornalistas a publicar os resultados sem avisar que erraram antes
e podem estar errando de novo).
Eu fico com editorial do F"inancial Times" de segunda-feira: "Nenhuma teoria econômica pode produzir as façanhas que seus usuários
habituaram-se a esperar dela".
crossi@uol.com.br
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