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Linha ocupada
Disponibilidade de recursos e alto interesse pelo Brasil mostram que projeto de "supertele" com dinheiro público é um equívoco
Consumada no início de 2009, a
operação de compra da Brasil Telecom pela Telemar, dona da Oi,
foi marcada por procedimentos
nebulosos, que provocaram polêmica e justificadas apreensões sobre os interesses do governo Lula
no setor. Patrocinado pelo Executivo, com o argumento de que seria necessário criar uma "supertele nacional", o negócio foi acertado à margem das regras vigentes,
que foram mudadas posteriormente para torná-lo legal.
Até aqui, os resultados da nova
companhia mostravam-se ruins
para o consumidor. Com uma dívida estimada em R$ 30 bilhões, a Oi
perdeu capacidade financeira e
deixou de fazer investimentos necessários para expandir e aperfeiçoar seus serviços. Agora, a composição da empresa muda mais
uma vez. Numa operação bilionária, a Portugal Telecom vendeu
sua fatia na Vivo para a Telefónica
e adquiriu 22,4% da Oi.
O novo sócio, é claro, não pretende ter participação apenas como investidor. Entra na empresa
-que tem forte presença estatal
por meio do BNDES e fundos de
pensão- com o propósito de ser
protagonista. Ao que se sabe, a PT
terá poder de veto sobre decisões
estratégicas da La Fonte (do empresário Carlos Jereissati) e da Andrade Gutierrez, os dois principais
acionistas privados -que, segundo se especula, poderiam numa
etapa futura sair da operadora.
As negociações, mais uma vez,
contaram com a colaboração direta do governo. O presidente Lula e
a candidata Dilma Rousseff, por
exemplo, trataram do tema com o
primeiro-ministro português. A
ex-"supertele nacional" passou a
ser a "supertele luso-brasileira",
com ambições de ampliar suas atividades em escala internacional,
notadamente nos mercados da
América Latina e da África.
O alto valor envolvido na transação -R$ 27,5 bilhões- demonstra a atração que o mercado brasileiro exerce sobre empresas do setor. Estima-se que até 2018 o Brasil
terá 160 milhões de acessos à internet e 272 milhões de números
de celulares habilitados. Embora
questionados na Secretaria de Direito Econômico, os pacotes que
envolvem internet, TV e telefonia
são vistos como um filão promissor pelas operadoras.
Diante da disponibilidade de recursos, do interesse despertado
pelo país e da possibilidade de a
Oi vir a ser controlada dentro de
alguns anos por um grupo estrangeiro, é de perguntar por que motivo o governo Lula mobilizou recursos públicos e os embalou em
ideais nacionalistas para ampliar
a presença do Estado na telefonia.
Lembre-se, a propósito, o plano de
ressuscitar a estatal Telebrás para
promover oferta de banda larga.
Enquanto isso, o setor público
impõe custos tributários excessivos às operadoras; a Anatel não
raro comporta-se como órgão de
defesa de interesses das empresas; e os serviços que chegam aos
cidadãos são caros e deficientes.
Não parece um objetivo defensável de "política industrial" o Estado atuar como empreendedor
na telefonia. Há outras prioridades. Seu papel, salvo ações pontuais, deveria concentrar-se na regulação, com vistas a fomentar
um ambiente competitivo, com a
atração de novos "players", em
benefício do consumidor.
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