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RUY CASTRO
Canastrão incongruente
RIO DE JANEIRO - Na Hollywood
clássica havia um canastrão oficial:
Victor Mature. Até ele achava. Certa
vez, por não aceitar atores como sócios, um clube de golfe de Los Angeles recusou sua inscrição. Mature
se defendeu: "Não sou ator. E tenho
64 filmes para provar isto". Ator ou
não, ganhou um Oscar (de coadjuvante, por "Paixão dos Fortes", em
1946) e ficou famoso com "O Beijo
da Morte" (1947), "Sansão e Dalila"
(1949) e "O Manto Sagrado" (1953).
A carreira de Mature durou dez
anos -em 1955, ninguém queria saber mais dele. Já a carreira de
Sylvester Stallone, que lhe copiou
os papéis, os músculos e a carantonha, completou 40. E olhe que,
comparado a Stallone, Victor Mature era sir Laurence Olivier.
Stallone, que andou rodando um
filme aqui, disse outro dia: "No Brasil, ao filmar, pode-se demolir casas
e explodir prédios de verdade e matar gente. Eles agradecem e ainda
nos dão um macaco de presente".
Não sei se a realidade do Brasil é essa, se a nossa hospitalidade chega a
tal ponto e se há tantos macacos
disponíveis. Stallone poderia ter dito também que saiu devendo dinheiro a um bando de gente no Brasil, não pretende pagar e o calote ficará por isso mesmo.
Sua diatribe foi ingrata, injusta e
incongruente porque a explicação
para seu sucesso reside justamente
no embrutecimento do cinema
americano -no fato de que, de
1980 para cá, este se reduziu a uma
extensão da indústria de explosivos. Nos filmes de Stallone e de outros como ele, a ação se resume em
demolir cidades, cenários e seres
humanos. Os americanos adoram
isso, não vivem sem.
Confesso que, até hoje, só vi um
filme de Stallone: o primeiro "Rambo" (1982). Ali decidi que não precisaria ver outros. Significa que há 28 anos não saio de casa para assistir
às suas porcarias. Na verdade, deveria ser-lhe grato pela excepcional
qualidade de vida que tenho levado
desde então.
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