São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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O PIOR QUE NÃO PASSA

A julgar pelos mais recentes índices divulgados, o pior ainda não passou no que diz respeito à crise de emprego, a despeito das declarações oficiais. A situação parece ter deixado de se agravar, mas estagnou num patamar mais do que desconfortável.
No mês de fevereiro, a taxa de São Paulo, medida pela Fundação Seade e pelo Dieese, batia, neste ano, seu primeiro seu recorde histórico. Atingiu 17,2%, superando os índices da segunda metade da década de 80 e até os da recessão do governo Collor.
Quando foi divulgada a taxa de março, que mostrava ainda mais desempregados na região metropolitana de São Paulo, o recém-empossado ministro do Trabalho, Edward Amadeo, fez declaração otimista quanto à falta de trabalho no maior centro econômico do país. Reconhecia que a situação era preocupante, mas afirmava que já era possível visualizar "algumas tendências positivas".
Três meses depois, a taxa de desemprego de junho, divulgada anteontem, está em brutais 19% da força de trabalho. Trata-se de uma taxa 17% superior ao índice mais alto registrado na recessão de 92 (de 16,2%, em junho daquele ano).
Ainda que existam razões para esperar alguma expansão de vagas até o final de 98, é inegável que a situação é extremamente preocupante. A abertura de postos de trabalho, que normalmente ocorre todo segundo semestre, deve ser reforçada, este ano, pelas contratações relacionadas às campanhas eleitorais. Mas tais efeitos são temporários.
Em outra declaração pouco feliz, pelo menos no que diz respeito às regiões metropolitanas, Amadeo afirmou em abril que no Brasil não havia "crise de emprego", mas apenas "tendências preocupantes". Mesmo que a atual taxa recorde arrefeça, os índices deste primeiro semestre não permitem visualizar uma recuperação até níveis aceitáveis.
Usar eufemismos não diminui a gravidade da situação. Pode produzir frustração e desacreditar as análises oficiais. Qualquer que seja o caminho para tentar combater o problema, o primeiro passo é reconhecer que hoje o Brasil vive, sim, uma severa crise de emprego.



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