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O PIOR QUE NÃO PASSA
A julgar pelos mais recentes índices
divulgados, o pior ainda não passou
no que diz respeito à crise de emprego, a despeito das declarações oficiais. A situação parece ter deixado
de se agravar, mas estagnou num patamar mais do que desconfortável.
No mês de fevereiro, a taxa de São
Paulo, medida pela Fundação Seade e
pelo Dieese, batia, neste ano, seu primeiro seu recorde histórico. Atingiu
17,2%, superando os índices da segunda metade da década de 80 e até
os da recessão do governo Collor.
Quando foi divulgada a taxa de março, que mostrava ainda mais desempregados na região metropolitana de
São Paulo, o recém-empossado ministro do Trabalho, Edward Amadeo,
fez declaração otimista quanto à falta
de trabalho no maior centro econômico do país. Reconhecia que a situação era preocupante, mas afirmava que já era possível visualizar "algumas tendências positivas".
Três meses depois, a taxa de desemprego de junho, divulgada anteontem, está em brutais 19% da força de
trabalho. Trata-se de uma taxa 17%
superior ao índice mais alto registrado na recessão de 92 (de 16,2%, em
junho daquele ano).
Ainda que existam razões para esperar alguma expansão de vagas até o
final de 98, é inegável que a situação
é extremamente preocupante. A
abertura de postos de trabalho, que
normalmente ocorre todo segundo
semestre, deve ser reforçada, este
ano, pelas contratações relacionadas
às campanhas eleitorais. Mas tais
efeitos são temporários.
Em outra declaração pouco feliz,
pelo menos no que diz respeito às regiões metropolitanas, Amadeo afirmou em abril que no Brasil não havia
"crise de emprego", mas apenas
"tendências preocupantes". Mesmo
que a atual taxa recorde arrefeça, os
índices deste primeiro semestre não
permitem visualizar uma recuperação até níveis aceitáveis.
Usar eufemismos não diminui a
gravidade da situação. Pode produzir
frustração e desacreditar as análises
oficiais. Qualquer que seja o caminho para tentar combater o problema, o primeiro passo é reconhecer
que hoje o Brasil vive, sim, uma severa crise de emprego.
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