São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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Miçangas eletrônicas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A Embratel, como todos sabem, ficou com o grupo norte-americano MCI. Seria um bom negócio em qualquer circunstância, dada a óbvia importância da transmissão de dados no mundo moderno, principal operação da empresa.
Mas se torna um negócio ainda mais espetacular se a gente tentar olhar para a frente, da ótica norte-americana.
No dia 29, ou seja, o mesmíssimo dia em que a Embratel e toda a telefonia estavam sendo privatizadas, o secretário norte-americano de Comércio, William Daley, depunha na Câmara de Representantes de seu país.
Previa que, na primeira década do século 21, mais de 1 bilhão de pessoas estarão conectadas à Internet. Oh, que maravilha, exclamarão internautas e até um "idionauta" como eu, que tenta penosamente utilizar as novas tecnologias.
Acrescentava, no entanto, Daley: "Vejo-os como 1 bilhão de consumidores de produtos feitos nos Estados Unidos". Na verdade, Daley usou "América", e não Estados Unidos, porque, vistas as coisas de Washington, o resto da América realmente inexiste, a não ser, claro, como consumidores de produtos "made in USA".
Nada contra produtos norte-americanos, embora ainda prefira um bom "bife de chorizo" argentino a um Big Mac.
O problema é que os países ditos emergentes estão cada vez mais sendo reduzidos ao estágio de indígenas que aceitam as miçangas (agora eletrônicas) oferecidas pelos novos colonizadores em troca de tudo o que têm.
O fato básico é que telecomunicações vão servir, cada vez mais, para fazer negócios, e, para fazer negócios, é preciso ter o que vender e o que comprar, com o perdão da obviedade.
O Brasil dorme feliz porque vai poder comprar celulares mais baratos e de forma mais expedita, a miçanga eletrônica mais recente. Mas vai vender o que para eles, via Embratel?



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