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Miçangas eletrônicas
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - A Embratel, como todos
sabem, ficou com o grupo norte-americano MCI. Seria um bom negócio em
qualquer circunstância, dada a óbvia
importância da transmissão de dados
no mundo moderno, principal operação da empresa.
Mas se torna um negócio ainda mais
espetacular se a gente tentar olhar para a frente, da ótica norte-americana.
No dia 29, ou seja, o mesmíssimo dia
em que a Embratel e toda a telefonia
estavam sendo privatizadas, o secretário norte-americano de Comércio,
William Daley, depunha na Câmara
de Representantes de seu país.
Previa que, na primeira década do
século 21, mais de 1 bilhão de pessoas
estarão conectadas à Internet. Oh, que
maravilha, exclamarão internautas e
até um "idionauta" como eu, que tenta penosamente utilizar as novas tecnologias.
Acrescentava, no entanto, Daley:
"Vejo-os como 1 bilhão de consumidores de produtos feitos nos Estados Unidos". Na verdade, Daley usou "América", e não Estados Unidos, porque, vistas as coisas de Washington, o resto da
América realmente inexiste, a não ser,
claro, como consumidores de produtos
"made in USA".
Nada contra produtos norte-americanos, embora ainda prefira um bom
"bife de chorizo" argentino a um Big
Mac.
O problema é que os países ditos
emergentes estão cada vez mais sendo
reduzidos ao estágio de indígenas que
aceitam as miçangas (agora eletrônicas) oferecidas pelos novos colonizadores em troca de tudo o que têm.
O fato básico é que telecomunicações
vão servir, cada vez mais, para fazer
negócios, e, para fazer negócios, é preciso ter o que vender e o que comprar,
com o perdão da obviedade.
O Brasil dorme feliz porque vai poder comprar celulares mais baratos e
de forma mais expedita, a miçanga
eletrônica mais recente. Mas vai vender o que para eles, via Embratel?
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