São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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ACEFALIA GLOBAL

A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Johannesburgo, envereda por discussões maçantes, de cunho eminentemente tecnocrático. O fato mal disfarça -e, talvez, na verdade evidencie- o fracasso fundamental dessa reunião que pretende, entre outros tópicos, fazer um balanço de dez anos da Eco-92, que ocorreu no Rio de Janeiro, e de propor maneiras de tornar realidade suas metas. O mundo, hoje, sofre de uma aguda carência de lideranças políticas capazes de levar a termo as diretrizes para um desenvolvimento humano socialmente mais justo e ambientalmente menos destrutivo.
A sensação de que, na melhor das hipóteses, muito pouco se avançou no terreno da cooperação mundial para o desenvolvimento foi corroborada pela "acalorada" discussão da quinta-feira. Tratava-se de tentar convencer os países ricos a destinar no mínimo 0,7% de seu PIB a título de ajuda ao desenvolvimento de nações mais pobres. A mesma discussão se travou no Rio, quando a média do auxílio dos ricos aos pobres era de 0,36% do PIB. Dez anos depois, a cifra, em vez de convergir para os 0,70%, caiu para 0,22%.
A discussão ilustra bem o mote que tem prevalecido na reunião da África do Sul: o de tentar "afirmar" novamente o que já fora afirmado no passado. Enquanto a governança global anda de lado, os problemas ambientais e econômicos do planeta aumentam em escala. O drama da fome, da Aids e da guerra na África é apenas um dos exemplos dessa tragédia humana em franca progressão.
Por seu turno, a restrição radical do acesso às benesses básicas da civilização também não cessa de cobrar seu preço das elites abastadas do planeta. O custo da negligência dá-se a perceber na massa crescente de migrantes depauperados que acorre aos centros concentradores da riqueza, bem como nas manifestações mais extremadas de ódio niilista ao "establishment mundial" presentes nos movimentos juvenis antiglobalização, nos fundamentalismos religiosos e, até, no terrorismo.


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