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ACEFALIA GLOBAL
A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em
Johannesburgo, envereda por discussões maçantes, de cunho eminentemente tecnocrático. O fato mal
disfarça -e, talvez, na verdade evidencie- o fracasso fundamental
dessa reunião que pretende, entre
outros tópicos, fazer um balanço de
dez anos da Eco-92, que ocorreu no
Rio de Janeiro, e de propor maneiras
de tornar realidade suas metas. O
mundo, hoje, sofre de uma aguda carência de lideranças políticas capazes de levar a termo as diretrizes para
um desenvolvimento humano socialmente mais justo e ambientalmente menos destrutivo.
A sensação de que, na melhor das
hipóteses, muito pouco se avançou
no terreno da cooperação mundial
para o desenvolvimento foi corroborada pela "acalorada" discussão da
quinta-feira. Tratava-se de tentar
convencer os países ricos a destinar
no mínimo 0,7% de seu PIB a título
de ajuda ao desenvolvimento de nações mais pobres. A mesma discussão se travou no Rio, quando a média
do auxílio dos ricos aos pobres era de
0,36% do PIB. Dez anos depois, a cifra, em vez de convergir para os
0,70%, caiu para 0,22%.
A discussão ilustra bem o mote que
tem prevalecido na reunião da África
do Sul: o de tentar "afirmar" novamente o que já fora afirmado no passado. Enquanto a governança global
anda de lado, os problemas ambientais e econômicos do planeta aumentam em escala. O drama da fome, da
Aids e da guerra na África é apenas
um dos exemplos dessa tragédia humana em franca progressão.
Por seu turno, a restrição radical do
acesso às benesses básicas da civilização também não cessa de cobrar
seu preço das elites abastadas do planeta. O custo da negligência dá-se a
perceber na massa crescente de migrantes depauperados que acorre
aos centros concentradores da riqueza, bem como nas manifestações
mais extremadas de ódio niilista ao
"establishment mundial" presentes
nos movimentos juvenis antiglobalização, nos fundamentalismos religiosos e, até, no terrorismo.
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