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POLÍTICA ESPORTIVA
O Brasil chegou ao final dos
Jogos Olímpicos de 2004 de
Atenas com quatro medalhas de ouro, seu melhor desempenho na história da competição. Não obstante,
ao considerar a população do país,
que já superou os 180 milhões de habitantes, e suas potencialidades esportivas, não há como escapar à sensação de que resultados melhores
poderiam ter sido alcançados. Comparado ao de países como a China, a
Rússia e a Austrália, o desempenho
do Brasil foi pífio.
Esse sentimento de que o país permanece aquém de suas potencialidades tem alimentado discussões sobre quais devem ser as diretrizes da
política esportiva governamental. Esquematicamente, o debate gira em
torno de duas alternativas.
De um lado, enfatiza-se a importância de investir no chamado esporte de alto rendimento, ou seja, em
melhores condições para o aperfeiçoamento de uma elite de atletas que
poderia obter mais vitórias em competições de nível internacional. De
outro, salienta-se a importância de o
Estado investir no esporte de base,
que teria como principal objetivo não
a formação de medalhistas olímpicos, mas a disseminação social da
prática esportiva.
As duas opções não são excludentes. Ao contrário, complementam-se, embora a escassez de recursos
possa levar a uma disputa entre os
mais interessados numa ou noutra.
O investimento público em esportes no Brasil precisa ser analisado à
luz das necessidades da sociedade e
de uma política esportiva de longo
prazo. O objetivo não deve ser produzir atletas "artificialmente" e o mais
rápido possível para ganhar medalhas, mas investir num processo
mais amplo e contínuo, com encadeamentos a serem observados.
Antes de mais nada, cabe ao Estado
incentivar a atividade física, como
política complementar de saúde, e a
atividade física competitiva como
política esportiva, sobretudo na rede
de ensino. O problema aqui não diz
respeito apenas a recursos, mas principalmente à vontade política, que
deve presidir um esforço de planejamento, coordenação e implementação, envolvendo as diversas instâncias do poder público. É preciso mobilizar as escolas, criar competições e
propiciar à massa estudantil condições para que revele talentos. Segundo a conhecida fórmula, da quantidade deve nascer a qualidade.
Quanto ao esporte competitivo de
alto nível, ao qual o Estado já destina
recursos, seja das loterias, seja por
intermédio de empresas públicas,
deve-se buscar o apoio da iniciativa
privada. Isso requer uma regulação
do ambiente esportivo que ofereça
segurança ao investidor, o que é bem
diferente de uma estrutura, como a
atual, marcada pela falta de transparência e a apropriação de entidades
por interesses pessoais, de grupos e
até de famílias. São conhecidos os
casos de dirigentes que se perpetuam
nos cargos, criam feudos e deixam
em segundo plano as atividades que
deveriam promover. É imperioso dar
um fim a essa situação.
Num quadro como este, uma lei de
incentivos fiscais para o esporte, como a que o governo está por propor,
só pode ser vista com muita cautela.
Dinheiro de impostos é dinheiro
público e não de empresas. Concessões de incentivos devem ser transitórias, visando estimular investidores. Elas precisam estar subordinadas a cronogramas e metas verificáveis. É indispensável exigir da iniciativa privada a necessária contrapartida no investimento, o que afasta a
possibilidade de renúncia integral. É
igualmente fundamental que os recursos sejam aplicados em consonância com as diretrizes de uma política nacional de esporte (que deve
traçar objetivos e prioridades) -e
não apenas com os interesses de
marketing das empresas ou as ambições de dirigentes esportivos.
Não há nenhuma urgência em
transformar o Brasil numa potência
olímpica. Se um dia isso acontecer,
que seja fruto não de artifícios com
vistas a efeitos propagandísticos,
mas de uma política esportiva consistente e de longo prazo, com forte
enraizamento na sociedade.
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