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CLÓVIS ROSSI
Dirceu tem razão
SÃO PAULO - Concordo inteiramente com o ex-ministro José Dirceu quando diz estar "perplexo, estupefato e quase em pânico" com a
hipótese de que tenha sido determinada pela mídia a decisão do Supremo Tribunal Federal de aceitar a
denúncia contra os 40 do caso mensalão.
A hipótese apareceu em telefonema, ouvido por Vera Magalhães,
brava repórter desta Folha, entre o
ministro Ricardo Lewandowski e
um certo Marcelo.
Lewandowski disse que "todo
mundo votou com a faca no pescoço". Aí, de duas uma: ou se trata de
expressão de conversa informal,
que não pode ser tomada ao pé da
letra, ou é uma análise de fato capaz
de dar pânico.
Levada ao limite, qualquer tarado pode achar que é melhor e mais
barato fechar o Supremo e deixar
que os editoriais dos jornais façam
o papel de sentença. Se houver divergências insanáveis entre o editorial de um jornal e de outro, poder-se-ia levar o caso ao Faustão
para aquelas votações eletrônicas
instantâneas em que o público decide quem é o melhor.
De todo modo, é uma análise desautorizada pelos antecedentes. No
julgamento de Fernando Collor, a
mídia estava maciçamente a favor
de sua punição, mas o STF o absolveu. E não aconteceu rigorosamente nada com os ministros que votaram pela absolvição. A mídia nem
os empalou nem os submeteu ao
garrote vil.
Logo, os atuais ministros não teriam porque temer o julgamento da
mídia se "amaciassem" ou não com
Dirceu ou com qualquer outro. Que
fossem criticados ou elogiados é
parte natural do jogo democrático,
em qualquer país civilizado. Nem
remotamente representa uma "faca no pescoço", a não ser para quem
não consegue lidar com críticas.
Mas, se os ministros decidiram
reverenciar os jornais, e não o direito, Dirceu tem a mais absoluta
razão.
crossi@uol.com.br
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