São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Dirceu tem razão

SÃO PAULO - Concordo inteiramente com o ex-ministro José Dirceu quando diz estar "perplexo, estupefato e quase em pânico" com a hipótese de que tenha sido determinada pela mídia a decisão do Supremo Tribunal Federal de aceitar a denúncia contra os 40 do caso mensalão.
A hipótese apareceu em telefonema, ouvido por Vera Magalhães, brava repórter desta Folha, entre o ministro Ricardo Lewandowski e um certo Marcelo. Lewandowski disse que "todo mundo votou com a faca no pescoço". Aí, de duas uma: ou se trata de expressão de conversa informal, que não pode ser tomada ao pé da letra, ou é uma análise de fato capaz de dar pânico.
Levada ao limite, qualquer tarado pode achar que é melhor e mais barato fechar o Supremo e deixar que os editoriais dos jornais façam o papel de sentença. Se houver divergências insanáveis entre o editorial de um jornal e de outro, poder-se-ia levar o caso ao Faustão para aquelas votações eletrônicas instantâneas em que o público decide quem é o melhor.
De todo modo, é uma análise desautorizada pelos antecedentes. No julgamento de Fernando Collor, a mídia estava maciçamente a favor de sua punição, mas o STF o absolveu. E não aconteceu rigorosamente nada com os ministros que votaram pela absolvição. A mídia nem os empalou nem os submeteu ao garrote vil.
Logo, os atuais ministros não teriam porque temer o julgamento da mídia se "amaciassem" ou não com Dirceu ou com qualquer outro. Que fossem criticados ou elogiados é parte natural do jogo democrático, em qualquer país civilizado. Nem remotamente representa uma "faca no pescoço", a não ser para quem não consegue lidar com críticas.
Mas, se os ministros decidiram reverenciar os jornais, e não o direito, Dirceu tem a mais absoluta razão.


crossi@uol.com.br

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