São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Vanguarda do clima


Empresários seguem tendência internacional e pressionam governo a adotar meta ousada na reunião de Copenhague


UM GRUPO de 22 grandes empresas nacionais expostas à competição global tomou a dianteira no debate sobre a mudança climática. Da Andrade Gutierrez à Votorantim, pesos pesados lançaram uma carta aberta cobrando posição mais arrojada do governo federal para a Conferência de Copenhague, em dezembro.
A reunião será a 15ª dos países que integram a Convenção do Clima, de 1992. É o prazo final para que se adote um tratado substituto ao Protocolo de Kyoto (1997), que fracassou no objetivo de reduzir a poluição aceleradora do aquecimento global. Teme-se que Copenhague fique aquém do que seria necessário para sanar as deficiências de Kyoto.
Em causa estão emissões dos gases do efeito estufa, como o CO2. Eles são produzidos por vários setores: energia, indústria, transportes, agricultura e desmatamento, entre os principais. Os compostos engrossam um cobertor invisível na atmosfera, aquecendo-a globalmente.
A temperatura média já se elevou 0,7C em dois séculos. Para evitar que ultrapasse a barreira dos 2C, considerada perigosa para a estabilidade do clima planetário, pesquisadores estimam que seria preciso cortar até 40% das emissões antes do ano 2020.
O governo brasileiro reluta em adotar compromissos de reduzir emissões, por temer que o custo do esforço comprometa o desenvolvimento. Nações mais ricas foram e são as maiores emissoras -portanto deveriam responder pelo maior esforço.
Os empresários, porém, encaram com pragmatismo esses cálculos sobre o futuro: "Mesmo que os países desenvolvidos reduzissem imediatamente a zero suas emissões, não seria possível alcançar a meta global de redução sem uma participação das economias emergentes".
O tema espinhoso da conferência de dezembro será a redução de emissões por desmatamento e degradação de florestas, conhecida como "Redd" (ao apodrecer ou queimar, a madeira lança CO2 no ar). "Redd" é uma maneira barata de reduzir emissões, pois restringe só atividades predatórias, como a pecuária extensiva de baixa rentabilidade.
O Brasil poderia obter bons recursos no mercado mundial de carbono, pois vem reduzindo o desflorestamento. Brasília, contudo, aceita apenas doações voluntárias como compensação pelo desmatamento evitado. Resiste a converter o ativo em créditos negociáveis, argumentando que países ricos se safariam de suas obrigações pagando pouco pelo "direito de poluir" (créditos de carbono "Redd" que inundariam o mercado).
Para impedir o desvio, bastaria acordar um teto para os créditos Redd. Por exemplo, 10% do total de reduções. Para usufruir desse mercado, o Brasil precisaria recalcular quanto produz, hoje, de poluição com desmatamento.
Os dados disponíveis indicam três quartos das emissões brasileiras, mas são de 1994. O novo inventário nacional é postergado ano após ano. A parcela do desmate deve ser hoje bem menor, mas isso significa que emissões pela queima de petróleo crescem mais que as de outras fontes, algo que o governo prefere não ver explicitado.


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