São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A hora da verdade

MARTA SUPLICY

Há exatos quatro anos eu ocupava este mesmo espaço. Na época, o paulistano tinha nas mãos a oportunidade de decidir o que era melhor para a cidade: se uma gestão moderna, com planejamento, pulso firme e parcerias, ou o retrocesso. O adversário é outro; o embate, não.
Em 2000 venceu a melhor proposta, e os anos de desgoverno foram deixados para trás. Com o fim do mandato, hoje é a hora de a população dizer sim ou não. Afinal, valeu a pena o esforço pela reconstrução da cidade?
Como prefeita e maior responsável por esse verdadeiro renascimento de nossa cidade, posso dizer que sim, valeu. Quem realmente gosta de São Paulo dá valor às conquistas inéditas que nasceram nesta administração, como os CEUs, o Bilhete Único e o novo centro, reformado e limpo. Enfim, temos uma nova São Paulo.
É importante que esse avanço prossiga. Dos 14 candidatos do primeiro turno, fui a única comprometida em continuá-lo. Essa lógica segue na etapa final. Pará-los é interromper a integração entre a São Paulo rica e a pobre, a dos prédios modernos e a das 2.018 favelas. Levamos a capital cosmopolita à periferia, com os CEUs, os programas sociais e tantas outras iniciativas.
Diferentemente do Cingapura, os CEUs não estão nas grandes avenidas, mas em 21 das áreas de mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Por isso mesmo boa parte dos que lêem este artigo talvez nunca tenham visto um. Um deles, o CEU da Paz, fica encravado num morro onde nem carteiro subia. Agora, como esta Folha relatou em 27 de junho, até parentes de moradores mudaram-se para o local em busca da qualidade dos centros. Isso é cuidar das pessoas.
Como a maior parte dos projetos desta gestão, o foco do CEU é amplo. Onde não havia teatro agora existe um. Quem nunca visitou um cinema enfim pôde assistir a uma projeção. Piscinas e bibliotecas foram instaladas. E são de toda a comunidade. Por isso mesmo não sofreram nem uma única depredação. E vamos estender o benefício para mais 24 bairros. Todas essas construções já foram licitadas, os terrenos, escolhidos, e há recursos no Orçamento de 2005. Assim, completaremos a rede CEU e todos os alunos da rede municipal (mais de 1 milhão) estarão matriculados no centro ou usufruindo de seus equipamentos.
Essa é a tônica de uma gestão que combinou complementação de renda com ações para impedir a evasão escolar. Um milhão de alunos recebem dois conjuntos de roupa, material escolar e mochila. Mais de 100 mil crianças que moram a mais de 2 km do local de estudo são transportadas diariamente pelo Vai-e-Volta. O Renda Mínima, que atende a 270 mil famílias com um complemento médio de R$ 120, já reduziu em 44% a evasão escolar.
No transporte, esta gestão finalmente inverteu a lógica de privilegiar o individual em detrimento do coletivo. Com os Passa Rápido, o Bilhete Único e 8.200 veículos novos -500 deles com ar condicionado-, a classe média voltou ao ônibus, uma tendência que desafogará o trânsito.
Importante lembrar também a guerra contra a máfia dos transportes, que você, leitor, acompanhou por este jornal. Sem essa vitória, nada de Bilhete Único. Greves e ações criminosas de sindicatos e donos de empresas foram combatidas e catracas eletrônicas eliminaram a evasão de renda e os clandestinos.
Em suma, esta é a cidade planejada de que o paulistano sentiu falta nas últimas décadas. E seu coração, o centro, abandonado por gestões consecutivas, hoje está lindo. Basta lembrar como eram, quatro anos atrás, a praça do Patriarca, o vale do Anhangabaú, o Mercadão e o Teatro Municipal. Empresas e famílias voltaram à região. São feitos importantes, sem dúvida.
Mas não estou satisfeita. Em quatro anos não conseguimos arrumar tudo na cidade. Passado o desafio de desmontar o PAS, que barrou o envio de R$ 100 milhões anuais do SUS, a meta é transformar a saúde em exemplo. Para isso, o Orçamento de 2005 reserva 17%, e não mais 15%, para a área. Até 2008 iremos construir 40 policlínicas em toda a cidade. Elogiado por médicos como Roger Abdelmasshi, Caio Rosenthal e Hélio Egydio Nogueira, o CEU Saúde está previsto desde o lançamento do programa de governo, em junho, e conta com o apoio dos ministros Antonio Palocci (Fazenda), que é médico, e Humberto Costa (Saúde) e do presidente Lula.
É preciso ressaltar que teremos o apoio da União em nossos projetos. Nos primeiros dois anos de administração, obras foram retardadas com o atraso de empréstimos do BNDES e do BID pelo governo Fernando Henrique, que somam cerca de R$ 1 bilhão. Só com a posse de Lula, em 2003, o repasse foi restabelecido.
O resgate continua com a ajuda de convênios firmados com cidades, países e entidades estrangeiras. Trouxemos a Unctad, a primeira conferência da ONU na cidade, e fui eleita a presidente da Cidades e Governos Locais Unidos, a maior entidade internacional de representação de municípios, a "ONU das cidades". Você imaginaria esse reconhecimento internacional na época de Pitta?
Nosso programa de governo amadureceu em quatro anos de gestão. Nele está explícita nossa tarefa de consolidar São Paulo como uma cidade solidária, com emprego, lazer, cidadania e o respeito às diferenças. Somos uma candidatura com feitos a mostrar e projetos concretos. Trocar esse planejamento por promessas é renegar a própria cidade. Pense bem, São Paulo.


Marta Suplicy, 59, psicanalista, prefeita do município de São Paulo, pelo PT, é candidata à reeleição.

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