São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Santa Clara
"Em 6/8, esse prestigiado e importante jornal publicou a reportagem sobre a votação do Troféu Santa Clara para os piores da TV ("Votação de Troféu Santa Clara inicia hoje", Ilustrada). O jornal informa que o papa Pio 12, em 1958, declarou Clara de Assis, a santa Clara, como a padroeira da TV. É desnecessário falar quem foi Clara de Assis. A CNBB lamenta profundamente que um dos principais ícones da Igreja Católica tenha seu nome associado a algo tão pejorativo, maculador da imagem dessa venerável santa. Nessa linha, entende a CNBB, amanhã pode ser criado o prêmio "São Francisco de Assis" para os inimigos dos animais e da natureza. Ou o prêmio "Dom Hélder" para os torturadores do ano. Ou, para sair do campo religioso, o prêmio "Rui Barbosa" para os piores advogados do ano. Ou o prêmio "Ayrton Senna" para os piores motoristas do ano. E assim distorcer o sentido dos prêmios e o passado daqueles que intitulam os prêmios. A grosseira comparação serve para demonstrar o absurdo de usar o nome de santa Clara para algo contrário ao seu título canônico de padroeira. Esse título ofende a memória de Clara de Assis, ofende seus devotos, ofende a igreja e, sobretudo e principalmente, ofende a todos os que lutam por uma TV como instrumento ético de informação e de entretenimento. Por essa razão, a CNBB, invocando as tradições éticas e democráticas da Folha, o seu compromisso com a verdade e com o serviço à população, em defesa do respeito às tradições religiosas e culturais do povo brasileiro, de maioria católica, pede a alteração do título de "Santa Clara" para o prêmio que qualifica "os piores da TV". A CNBB confia plenamente que a direção dessa organização jornalística compreenderá o pedido que lhe é feito e o atenderá."
Odilo Pedro Scherer, bispo auxiliar de São Paulo e secretário-geral da CNBB -Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Brasília, DF)

Aborto
"Excelente o artigo do ministro Marco Aurélio de Mello sobre o direito ao aborto em casos de anencefalia fetal ("A dor a mais", "Tendências/Debates", 29/10). Destaque-se que, com a autorização, nenhuma mulher será obrigada a abortar, mas terá essa opção. Bem fez o ministro ao afirmar que deixaria com sua mulher a decisão a ser tomada. Como disse Shakespeare em "Muito Barulho por Nada": "Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente".
Valéria Prochmann (Curitiba, PR)
 

"Gostaria de parabenizar o ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello pela coragem isenta que demonstrou ao discutir tema tão polêmico. A mãe que tem em seu ventre um filho que certamente morrerá ao nascer (ou até antes disso) sofre todos os dias a "perda antecipada do feto". É como se ela recebesse, dia após dia, a notícia de que seu filho morreu. Ora, para quem é mãe, simplesmente não há dor maior do que a morte do filho. Que necessidade há em impor uma gestação em que o sofrimento desse ser humano (a mãe!) é incomensurável? Por que não deixá-la decidir, com sua família, sobre a abreviação dessa dor? Muitas vezes, decisões são tomadas em prol de direitos consentidos e supostos, mas de forma parcial. Será que essa mãe também não tem direitos?"
Mellysande Pontes Faccin, médica, professora da Faculdade de Medicina do ABC, católica praticante (São Paulo, SP)

Serginho
"Gostaria de tornar público meu mais veemente repúdio à atitude oportunista demonstrada por alguns colegas médicos. No fragor da tragédia representada pela morte do jogador Serginho, aproveitaram-se dos meios de comunicação para se autopromoverem de forma inescrupulosa, ocupando sofregamente os espaços midiáticos, elaborando, sem jamais terem tido contato com o atleta, diagnósticos pomposos e sugerindo condutas terapêuticas pretensamente redentoras com a sempre presente mensagem sub-reptícia de que, "se fosse eu, faria melhor". Abutres famintos não fariam melhor."
Paulo Taufi Maluf Júnior, professor livre-docente em pediatria pela Faculdade de Medicina da USP (São Paulo, SP)

Cães
"Na manhã de 27/10, em Americana (SP), dois pit bulls, não satisfeitos em atacar os pais de um bebê, atacaram também o bebê, ferindo-o nas pernas. Os três foram salvos por vizinhos, que, ao ouvirem os gritos, afastaram os cães com pedaços de pau. Já está mais do que na hora de o Poder Público tomar a iniciativa de esterilizar essas raças de cães ferozes, como vem sendo feito em vários países da Europa. Nos EUA, custa US$ 50 mil licenciar um pit bull, já se prevendo a tragédia que essa fera pode provocar, incluindo a morte. Essas bestas-feras são mais perigosas do que armas de fogo, que dependem da vontade do dono para provocar tragédias."
Conrado de Paulo (Bragança Paulista, SP)

Petrobras e BC
"Ao ler a reportagem sobre a crítica do BC à política de preços da Petrobras e a resposta da estatal (Dinheiro, 29/10), pensei que é sempre e apenas o consumidor que responde por isso. Ao ver o nome Petrobras, lembrei que esse é o verdadeiro câncer nacional e novamente surgiram-me questões: por que os preços internos são corrigidos em dólar se ninguém recebe em dólar? Por que os preços dos combustíveis não baixam quando o preço do petróleo baixa? Como essa empresa nacional consegue trocar os reais que recebe internamente por dólar? Nós não somos quase auto-suficientes em petróleo? Então por que os preços são cotados internamente em dólar? Por que a gasolina nos Estados Unidos custa, em reais, a metade do preço da nossa?"
Braz Ferraz Carlomanho (Campinas, SP)

TV
"Gostei muito do artigo de Ester Hamburger sobre a novela "Senhora do Destino" ("Hiperatividade contagia as novelas", Ilustrada, 27/10). Realmente, o que o sucesso da novela demonstra é a grande tendência do brasileiro de se deixar levar pelo imediato e pela mídia, contentando-se com banalidades e bisbilhotices e deixando passar oportunidades de se aprofundar em assuntos que realmente compensem a perda de tempo em frente da TV. A conseqüência disso, por um lado, é a baixíssima qualidade de nossa programação televisiva e, por outro lado, o esquecimento dos verdadeiros valores que devem reger uma sociedade."
Teresa Garcia (Barueri, SP)

Causa e conseqüência
"Li a reportagem "Homem é condenado por transmitir HIV" (Cotidiano, 29/ 10) e fiquei perplexa. Numa sociedade em que constantemente são feitas campanhas que incentivam o uso de preservativos e alertam para o perigo das DSTs, como ignorar o fato de ser uma opção da pessoa não usar camisinha? É claro que ela estará sujeita a todas as conseqüências de sua escolha, desde uma gravidez indesejada até adquirir o HIV. Portanto isso não seria uma simples relação de causa e conseqüência?"
Vanessa Akiko Maeji Ishikawa (Arujá, SP)


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