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CLÓVIS ROSSI
Orgulhosos, mas cegos
ZURIQUE - Por muito que passe o
tempo nas estradas da notícia, por
muito que o Brasil político convide
ao ceticismo, já a caminho do cinismo, ainda assim há coisas que conseguem me espantar.
Exemplo: a nutrida comitiva de
políticos brasileiros que, chefiada
pelo próprio presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, veio a Zurique para a
confirmação do Brasil como país-sede da Copa de 2014.
Se fosse disputa, vá lá. Mas para
uma mera confirmação?
Até eu já sabia que o Brasil estava
escolhido havia meses.
De todo modo, o tamanho da comitiva acabou sendo o espanto menor. Ao término da cerimônia oficial, aberta a sessão para perguntas,
uma jornalista do Canadá, Erica
Bouman, fez a pergunta mais ou
menos óbvia sobre como o Brasil
poderia garantir a segurança, em
sendo um país perigoso, com grande número de mortes.
O presidente da CBF, Ricardo
Teixeira, reagiu como se a pátria tivesse sido ultrajada. Desviou a
questão para o tema da violência
em outros países, o que é real, mas
passa alegremente por cima do fato
de que quem vai organizar a Copa
de 2014 é só o Brasil.
Foi aplaudido furiosamente pela
nutrida comitiva, como se tivesse
resgatado a honra verde-e-amarela.
Pior: seus assessores puseram em
circulação, como é de praxe no Brasil, uma teoria conspiratória. A repórter (da AP norte-americana) teria sido instruída por seu governo,
supostamente interessado em assumir a Copa outorgada ao Brasil,
se o país falhasse nas providências
necessárias.
O técnico Dunga, um dos que espalhavam a suspeição, batia no peito, lamentava que os jornalistas
brasileiros supostamente acreditassem na canadense (que, aliás,
apenas apontava fatos reais) e reclamava: "Temos que ter orgulho de
sermos brasileiros".
Tudo bem, mas temos também
que ser cegos?
crossi@uol.com.br
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