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Ensino esclerosado
ESTUDO da consultoria
McKinsey sobre os melhores sistemas de ensino do
mundo conclui por recomendações simples: contratar os melhores mestres e obter deles o
máximo desempenho. Diante
disso, os resultados de outro estudo, sobre as redes estaduais de
São Paulo e Rio Grande do Sul,
sugerem que o ensino público
por aqui segue na direção oposta.
A Fundação Getúlio Vargas do
Rio investigou a folha de professores nos dois Estados. Os salários (média de R$ 1.461 em SP e
R$ 1.183 no RS) são insuficientes
para atrair os melhores formandos das faculdades. Embora o estudo pondere que em relação ao
PIB per capita o valor não seja
baixo, indica que, em física e química, a remuneração desestimula a opção pelo magistério.
Preocupa também o peso dos
inativos na despesa com educação. O governo gaúcho despende
51% da folha com aposentados
(45% dos professores), contra
35% da despesa em SP (31% de
inativos). O professor paulista se
aposenta aos 52 anos, em média,
após 21 anos de contribuição,
bem antes que em outros países.
Não está em jogo só o ônus previdenciário, mas o aspecto pedagógico. Se os docentes mais experientes deixam a rede cedo, a
qualidade do ensino cai. Os substitutos em geral têm formação
mais precária, e os mais velhos
não estarão disponíveis para lhes
passar os frutos da experiência.
Quanto mais avançam na carreira, menos os mestres têm a ganhar por ensinar bem (a progressão salarial se dá por tempo de
serviço, não desempenho). Com
as más condições de trabalho e a
aposentadoria especial (aos 50
anos de idade, para mulheres, e
55, homens) de valor superior ao
salário médio na ativa, sobram
razões para deixar o magistério.
Não será fácil realizar a necessária mudança radical no ensino
sem romper também esse circuito de incentivos perversos.
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