São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ensino esclerosado

ESTUDO da consultoria McKinsey sobre os melhores sistemas de ensino do mundo conclui por recomendações simples: contratar os melhores mestres e obter deles o máximo desempenho. Diante disso, os resultados de outro estudo, sobre as redes estaduais de São Paulo e Rio Grande do Sul, sugerem que o ensino público por aqui segue na direção oposta.
A Fundação Getúlio Vargas do Rio investigou a folha de professores nos dois Estados. Os salários (média de R$ 1.461 em SP e R$ 1.183 no RS) são insuficientes para atrair os melhores formandos das faculdades. Embora o estudo pondere que em relação ao PIB per capita o valor não seja baixo, indica que, em física e química, a remuneração desestimula a opção pelo magistério.
Preocupa também o peso dos inativos na despesa com educação. O governo gaúcho despende 51% da folha com aposentados (45% dos professores), contra 35% da despesa em SP (31% de inativos). O professor paulista se aposenta aos 52 anos, em média, após 21 anos de contribuição, bem antes que em outros países.
Não está em jogo só o ônus previdenciário, mas o aspecto pedagógico. Se os docentes mais experientes deixam a rede cedo, a qualidade do ensino cai. Os substitutos em geral têm formação mais precária, e os mais velhos não estarão disponíveis para lhes passar os frutos da experiência.
Quanto mais avançam na carreira, menos os mestres têm a ganhar por ensinar bem (a progressão salarial se dá por tempo de serviço, não desempenho). Com as más condições de trabalho e a aposentadoria especial (aos 50 anos de idade, para mulheres, e 55, homens) de valor superior ao salário médio na ativa, sobram razões para deixar o magistério.
Não será fácil realizar a necessária mudança radical no ensino sem romper também esse circuito de incentivos perversos.


Texto Anterior: Editoriais: "Apenas" estabilidade
Próximo Texto: Zurique - Clóvis Rossi: Orgulhosos, mas cegos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.