São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Chega de saudade

SÃO PAULO - "Vai, minha tristeza, e diz a ela que sem ela não pode ser..." A gravação da canção de Tom e Vinicius por João Gilberto completa 50 anos em 2008. Nunca mais seríamos tão modernos. Mas alguns podem dizer: "Chega de saudade!".
O próprio Ruy Castro, que sabe dessas coisas, escreveu anteontem uma coluna deliciosa -"Bom era antes"-, em que mostrava como cada geração fixou, em algum lugar do passado, a sua imagem idílica do Rio, anterior à decadência que viria desaguar na conflagração atual.
Seja como for, 1958 funciona como ano-símbolo de um período memorável. Foi quando o gênio de Pelé surgiu para o mundo, na Copa da Suécia -nossa primeira taça.
Mas foi sobretudo a época em que tomou forma e se tornou tangível um esforço coletivo de construção nacional. Uma utopia brasileira -por que não?- que tinha em Brasília sua síntese e seu ponto de fuga.
A bossa nova, Guimarães Rosa, a poesia concreta são testemunhos desses anos que prometiam integrar passado e futuro numa sociedade mais harmonizada. Diante do milagre visual que são as bandeirinhas de Volpi, como não enxergar um país reconciliado, enraizado e livre, interior e moderno, fiel às tradições e acolhedor do novo?
Um grande amigo vê nessa nostalgia a ilusão retrospectiva e sentimental de uma pequena elite litorânea. De fato, em 1958 o país tinha 1/3 da população atual, menos da metade (45%) nas cidades.
Quando a Constituição de 1988 fixou direitos e garantias sociais em grau inédito, já éramos uma sociedade urbana de massas. Fomos então atropelados pelo trem-bala da nova ordem econômica mundial e passamos 20 anos atrás do prejuízo, agarrados à segunda classe.
Gente que respeito está agora mais otimista com nossas perspectivas. Observo, como Riobaldo, desconfiado. E, por teimosia, vou para o mato, levando meus CDs do Tom Jobim. Volto de férias em fevereiro. Estou me guardando pra quando o Carnaval chegar. Feliz 2008!


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