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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Chega de saudade
SÃO PAULO - "Vai, minha tristeza,
e diz a ela que sem ela não pode
ser..." A gravação da canção de Tom
e Vinicius por João Gilberto completa 50 anos em 2008. Nunca mais
seríamos tão modernos. Mas alguns
podem dizer: "Chega de saudade!".
O próprio Ruy Castro, que sabe
dessas coisas, escreveu anteontem
uma coluna deliciosa -"Bom era
antes"-, em que mostrava como
cada geração fixou, em algum lugar
do passado, a sua imagem idílica do
Rio, anterior à decadência que viria
desaguar na conflagração atual.
Seja como for, 1958 funciona como ano-símbolo de um período memorável. Foi quando o gênio de Pelé surgiu para o mundo, na Copa da
Suécia -nossa primeira taça.
Mas foi sobretudo a época em que
tomou forma e se tornou tangível
um esforço coletivo de construção
nacional. Uma utopia brasileira
-por que não?- que tinha em Brasília sua síntese e seu ponto de fuga.
A bossa nova, Guimarães Rosa, a
poesia concreta são testemunhos
desses anos que prometiam integrar passado e futuro numa sociedade mais harmonizada. Diante do
milagre visual que são as bandeirinhas de Volpi, como não enxergar
um país reconciliado, enraizado e
livre, interior e moderno, fiel às tradições e acolhedor do novo?
Um grande amigo vê nessa nostalgia a ilusão retrospectiva e sentimental de uma pequena elite litorânea. De fato, em 1958 o país tinha
1/3 da população atual, menos da
metade (45%) nas cidades.
Quando a Constituição de 1988
fixou direitos e garantias sociais em
grau inédito, já éramos uma sociedade urbana de massas. Fomos então atropelados pelo trem-bala da
nova ordem econômica mundial e
passamos 20 anos atrás do prejuízo,
agarrados à segunda classe.
Gente que respeito está agora
mais otimista com nossas perspectivas. Observo, como Riobaldo, desconfiado. E, por teimosia, vou para
o mato, levando meus CDs do Tom
Jobim. Volto de férias em fevereiro.
Estou me guardando pra quando o
Carnaval chegar. Feliz 2008!
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