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O ano político
Paralisia decisória, clima de acomodação e descrédito alteraram, em 2009, o equilíbrio dos Poderes republicanos
O CÍRCULO vicioso do escândalo, do esquecimento e da impunidade marcou, sem que
haja nisso maior ineditismo, o
ano político de 2009.
Dos abusos cometidos pelos
deputados federais nos gastos
das verbas indenizatórias aos vídeos protagonizados pelo governador José Roberto Arruda
(DEM-DF) e seus apoiadores,
passando pela série de denúncias
envolvendo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),
acumularam-se casos que, se tomados individualmente, poderiam por si sós derrubar do poder
seus protagonistas. Todos restaram incólumes, entretanto.
Sente-se, é claro, que estas linhas poderiam ter sido idênticas
em qualquer ano do passado recente. O que se consolidou em
2009 foi a percepção de que uma
verdadeira tecnologia de malversação dos recursos públicos ramificou-se por todos os níveis
administrativos do país e pelo
conjunto das agremiações partidárias, não importando a ideologia que professem.
Resulta disso uma espécie de
"neutralização" do potencial político de qualquer escândalo -de
que são sintoma, talvez, os últimos números da pesquisa Datafolha sobre o desempenho dos
parlamentares. A reprovação é
intensa (40% dos eleitores brasileiros consideram "ruim" ou
"péssima" a atuação de seus representantes no Congresso),
mas não difere demasiado da registrada dois anos atrás, quando
chegou a 45%.
Todavia, não é apenas devido à
rotinização dos escândalos que a
vida política em 2009, ao menos
em seu sentido institucional
mais estrito, estagnou-se de modo desalentador.
Ainda que se contabilize, em
comparação com anos anteriores, um relativo crescimento no
número de projetos de lei de iniciativa do Congresso, foi baixa a
sua capacidade de responder às
demandas da sociedade.
O mundo das decisões políticas, entretanto, não se paralisa
-e é assim que as decisões tomadas pelo Judiciário ganharam relevância talvez inédita no país,
mostrando-se por vezes mais polêmicas e dramáticas do que as
do sistema partidário e político
tradicional.
Do destino de governadores
eleitos às reservas indígenas de
Roraima, recaíram sobre os ministros do Supremo deliberações
complexas, às quais se entregaram com envolvimento e mesmo
passionalidade exacerbada.
Em qualquer país, uma corte
constitucional está naturalmente dedicada a resolver dilemas de
extrema relevância. Mas o equilíbrio dos Poderes pendeu de tal
forma para o Judiciário, que sem
dúvida se empolou -como no
caso inaceitável da manutenção
da censura à imprensa- o império arbitral dos membros do Supremo, com seu cortejo de contradições e vaidades demasiado
humanas.
É como se, em 2009, a política
só tivesse conseguido sobreviver
à erosão institucional projetando-se em arenas não ainda tomadas pelo descrédito. Continuou a
fazer-se, mas deslocada do seu
centro parlamentar. E, mais do
que nunca, ao arrepio da opinião
pública.
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