São Paulo, quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

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KENNETH MAXWELL

A década

EM SUA REVISÃO sobre a década que se está encerrando, o jornal "Financial Times", nesta semana, incluiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua lista de 50 "líderes mundiais mais influentes". O jornal também apontou o ex-presidente norte-americano George W. Bush para sua lista de vilões, que ele compartilha com o seu maior rival, o arisco arquiterrorista Osama bin Laden.
Acompanhado de líderes empresariais inovadores como Jeff Bezos, da Amazon.com, e Larry Page e Sergey Brin, do Google, Lula foi escolhido, de acordo com o "Financial Times", porque é "o líder mais popular" na história do Brasil e devido ao seu "charme e capacidade política... bem como pela baixa inflação e pelos programas eficientes de transferência de renda aos mais pobres". Muita gente agora antecipa que o Brasil pode vir a se tornar a quinta maior economia mundial em 2020, o que resultaria em mudança duradoura na ordem internacional.
Lula é indubitavelmente o novo "astro" internacional do momento.
Tanto o diário parisiense "Le Monde" como o jornal espanhol "El País" o escolheram como "homem do ano". Com a aproximação da eleição presidencial no Brasil, no ano que vem, para a escolha do sucessor de Lula pelo povo brasileiro, vale a pena parar por um momento para avaliar o significado dessa euforia e questionar se ela é ou não justificada.
Há, evidentemente, muito a dizer em favor de Lula. O Brasil emergiu fortalecido da atual crise econômica mundial. A economia do país se diversificou, e o Brasil desenvolveu lucrativos relacionamentos internacionais, especialmente com a China. Hoje, 14 das 100 maiores multinacionais emergentes são brasileiras, e grandes empresas, como a Brazil Foods, a JBS-Friboi, a Gerdau e CNS, a Vale, a Odebrecht e a Camargo Corrêa, são capazes de concorrer com força nos mercados internacionais. Em 2010, a expectativa é que o crescimento chegue a 5%.
Restam obstáculos, evidentemente, e eles são bem conhecidos dos brasileiros. O sistema político e judicial é disfuncional, de muitas maneiras. Os desequilíbrios em termos de interesses e de influência política regionais são bem conhecidos, mas difíceis de mudar. Muitos dos integrantes da classe política são venais. A popularidade de Lula pode ou não ser transferível, e só o tempo dirá.
Mas, em termos gerais, o Brasil está prestes a encerrar a primeira década do século 21 em posição muito forte, tanto no âmbito doméstico como no internacional. Boa parte do crédito por essa realização deve ser atribuído ao bom humor, à astúcia política e às escolhas políticas muito cuidadosas do presidente brasileiro.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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