São Paulo, quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

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CARLOS HEITOR CONY

Nostalgia da verdade

RIO DE JANEIRO - Pequena (ainda) crise no setor militar neste final de ano. O governo deseja implantar um necessário Plano Nacional dos Direitos Humanos, que cria uma "Comissão da Verdade" para apurar torturas, mortes e desaparecimentos durante a ditadura militar, que durou 21 anos, de 1964 a 1985.
Dois comandantes, o do Exército e o da Aeronáutica, ameaçam se demitir caso o presidente da República não revogue alguns trechos do referido plano considerados revanchistas pelos chefes militares.
A Comissão da Verdade pretende apurar o que até agora não foi suficientemente apurado: o gênero e o grau da repressão militar durante os anos de chumbo. Muito já se apurou, mas não integralmente. Neste particular, o plano pode colocar realmente um ponto final na pesquisa macabra que vem sendo feita espasmodicamente, e sempre de forma incompleta.
O nó da questão, ao que parece, é a retirada do nome de algumas autoridades do regime que batizam pontes, prédios, estradas e obras públicas, como a ponte Rio-Niterói, outra ponte em Brasília e, espalhados pelo país, centenas de homenagens com o nome de civis e militares que se destacaram na repressão.
Bem, pelo menos aqui no Rio, ninguém se refere à ponte Rio-Niterói como a ponte marechal ou general isso ou aquilo. É simplesmente a ponte Rio-Niterói -e basta.
Evidente que é necessário apurar a verdade, apesar dos 24 anos passados. É uma lição para o futuro. O golpe de 64 não foi apenas de militares, que seriam os executivos da força. Muitos civis foram os inspiradores que cobravam das casernas um golpe de Estado contra o governo de João Goulart.
Pelo que parece, há uma certa nostalgia do desastre, grupos interessados em manter acesa a eterna luta do bem contra o mal.


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