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CARLOS HEITOR CONY
Nostalgia da verdade
RIO DE JANEIRO - Pequena (ainda) crise no setor militar neste final
de ano. O governo deseja implantar
um necessário Plano Nacional dos
Direitos Humanos, que cria uma
"Comissão da Verdade" para apurar torturas, mortes e desaparecimentos durante a ditadura militar,
que durou 21 anos, de 1964 a 1985.
Dois comandantes, o do Exército
e o da Aeronáutica, ameaçam se demitir caso o presidente da República não revogue alguns trechos do
referido plano considerados revanchistas pelos chefes militares.
A Comissão da Verdade pretende
apurar o que até agora não foi suficientemente apurado: o gênero e o
grau da repressão militar durante
os anos de chumbo. Muito já se apurou, mas não integralmente. Neste
particular, o plano pode colocar
realmente um ponto final na pesquisa macabra que vem sendo feita
espasmodicamente, e sempre de
forma incompleta.
O nó da questão, ao que parece, é
a retirada do nome de algumas autoridades do regime que batizam
pontes, prédios, estradas e obras
públicas, como a ponte Rio-Niterói,
outra ponte em Brasília e, espalhados pelo país, centenas de homenagens com o nome de civis e militares que se destacaram na repressão.
Bem, pelo menos aqui no Rio,
ninguém se refere à ponte Rio-Niterói como a ponte marechal ou general isso ou aquilo. É simplesmente a ponte Rio-Niterói -e basta.
Evidente que é necessário apurar
a verdade, apesar dos 24 anos passados. É uma lição para o futuro. O
golpe de 64 não foi apenas de militares, que seriam os executivos da
força. Muitos civis foram os inspiradores que cobravam das casernas
um golpe de Estado contra o governo de João Goulart.
Pelo que parece, há uma certa
nostalgia do desastre, grupos interessados em manter acesa a eterna
luta do bem contra o mal.
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