São Paulo, sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Câncer e qualidade de vida

PAULO M. HOFF


A busca por um dia a dia mais tranquilo, quando falamos sobre uma doença com a gravidade do câncer, ainda desperta algumas incertezas

Receber o diagnóstico de câncer não é fácil. Os primeiros sentimentos são de preocupação, dúvidas, ansiedade e, obviamente, receio sobre a gravidade da doença. O paciente ingressa em um mundo novo, mudando a dinâmica de sua vida e de seus familiares.
Nesse contexto, é natural indagar se é possível tratar o câncer e manter boa qualidade de vida. Felizmente, a resposta é: sim, isso é possível. Com o avanço da idade média da população brasileira houve aumento na incidência das doenças crônico-degenerativas, e o câncer está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas.
Graças aos progressos no tratamento, a procura pelo bem-estar deixou de ser personagem secundário e ganhou destaque na luta contra o câncer. Um dos pontos cruciais para uma vida mais tranquila é que o paciente saiba que não será necessário abdicar de sua vida em função da doença.
Ao contrário: o convívio social e familiar é fundamental para que se possa conviver com o problema e enfrentá-lo. Hoje em dia, todos os bons serviços de tratamento de câncer dão ênfase à busca por uma boa qualidade de vida e atendimento humanizado. Esse objetivo é facilitado por um programa de acolhimento que inclua suporte psicológico e social.
Essa valorização sociocultural, tanto de quem está fornecendo o serviço quanto dos que usufruem dele é peça importantíssima no processo, pois a doença afeta também o equilíbrio emocional.
A parceria entre o paciente, o familiar e a instituição é positiva para todos os envolvidos. Não podemos nos esquecer dos cuidados paliativos quando o assunto é qualidade de vida de pacientes oncológicos.
Infelizmente, muitos pacientes ainda não obtêm a cura da doença.
Portanto, é fundamental que haja planejamento do atendimento àqueles que não mais se beneficiariam dos tratamentos. Esse tipo de trabalho traz excelentes resultados não só para controle de sintomas mas também para facilitar a aceitação e compreensão do diagnóstico.
Além do cuidado com o corpo físico, possibilita que os aspectos espirituais e sociais sejam contemplados. Apesar de não objetivar a cura, colabora significativamente para a melhora da autoestima e para um desenlace menos traumático para todos os envolvidos.
A busca por um dia a dia mais tranquilo, quando falamos em uma doença com a gravidade do câncer, contra a qual os tratamentos ainda são bastante agressivos e nem sempre efetivos, ainda desperta algumas incertezas.
Nas últimas décadas, tivemos avanços importantes, incluindo não somente tratamentos mais eficazes mas também mais convenientes, como as quimioterapias em comprimidos.
É claro que esse processo não vale para todos os tipos de câncer, mas mostra que a preocupação com qualidade de vida é levada muito a sério.

PAULO M. HOFF, oncologista, é professor titular da disciplina de oncologia da Faculdade de Medicina da USP e diretor clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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