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Elio Gaspari

A Bolsa Consultoria de Pimentel

Com dinheiro da Viúva, o empresariado mineiro deu ao ministro o que os americanos não dão a Kissinger

Se a doutora Dilma acha que pode manter Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento, deve chamar de volta Antonio Palocci, pedindo-lhe desculpas pelo mau jeito. Ambos fizeram fortuna dando consultorias a empresários. Palocci ganhou R$ 7,5 milhões em quatro anos e perdeu a chefia da Casa Civil. O repórter Thiago Herdy revelou que Pimentel coletou R$ 2 milhões em menos de dois, a partir do final de janeiro de 2009, quando deixou a Prefeitura de Belo Horizonte.

O ministro argumenta que sua experiência a serviço da cidade justifica uma remuneração de cerca de R$ 1,2 milhão líquidos. Como sua empresa, a P21, foi desfeita em dezembro de 2010, "isso dá cerca de R$ 50 mil por mês, é uma remuneração compatível com o mercado de executivos".

Não se conhece a lista de clientes de Palocci, mas sabe-se que a Federação e o Centro de Indústrias de Minas Gerais, pagaram R$ 1 milhão a Pimentel por nove meses de consultoria. Para o sindicalismo patronal, esse é um santo dinheiro, pois não é necessário ganhá-lo para fazer os cheques. O numerário vem da Viúva, pelos impostos que incidem sobre as folhas de pagamento. O patronato reclama da carga tributária e do "custo Brasil", mas não quer largar esse mimo.

Se Pimentel pudesse apresentar os estudos que fez para a Fiemg, tudo estaria resolvido. Ele diz que prestou "uma consultoria direta", seja o que for o que isso significa.

O general Brent Scowcroft, presidente do Conselho de Inteligência do presidente George Bush e assessor para assuntos de segurança nacional de dois de seus antecessores (Bush pai e Gerald Ford) recebia US$ 300 mil anuais para comandar o escritório de consultoria do ex-secretário de Estado Henry Kissinger em Washington. Pimentel faturou o dobro, só com a Fiemg.

Em 1986, os melhores fregueses de Kissinger pagavam US$ 420 mil anuais. Na presidência da Fiemg, o doutor Robson Andrade, atual mandarim da Confederação Nacional das Indústrias, pagou cerca de US$ 550 mil a Pimentel. Um verdadeiro caçador de talentos.

Seu consultor fora prefeito de Belo Horizonte e era candidato ao governo de Minas. Viria a ser um breve coordenador da campanha de Dilma Rousseff e, com sua vitória, foi para o ministério. Os empresários brasileiros não são perdulários, apenas sabem que o dinheiro vindo da Viúva tem um zero a mais.

Em fevereiro de 2010, Pimentel dizia que seu patrimônio não chegava a R$ 1 milhão. Com a P21, em dois anos, amealhou algo como o dobro do que acumulara em outros 30 de vida adulta. Justificando o desempenho, diz que essa "foi a forma que eu tive de ganhar dinheiro e sobreviver".

Em janeiro passado, o petista Patrus Ananias, um de seus antecessores na Prefeitura de Belo Horizonte, deixou o Ministério do Desenvolvimento Social onde, ao longo de seis anos, movera orçamentos de

R$ 40 bilhões e foi sobreviver batendo ponto como funcionário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Pimentel é um comissário histórico e está no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Sua freguesia está no andar de cima. O exercício do poder deu-lhe acesso ao programa Bolsa Consultoria. Patrus Ananias, pobre homem, cuidava da clientela do Bolsa Família.

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