Índice geral Poder
Poder
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Elio Gaspari

O homem dos Bric está otimista

Jim O'Neill, acha que o mundo vai bem, o Brasil vai melhor e Lula é o grande nome da década passada

Para quem não aguenta mais as notícias ruins da economia mundial, apareceu uma voz otimista. É a de Jim O'Neill, o economista da casa bancária Goldman Sachs que, em 2001, cunhou o acrônimo Bric. Ele chamava atenção para a emergência das economias de Brasil, Rússia, Índia e China.

Hoje, acredita que o mundo vive "os primeiros anos de algo que provavelmente será o maior deslocamento de riqueza e das desigualdades de renda da história". O motor do progresso serão os Bric, mais o grupo dos "Próximos 11", os "N-11".

Seu principal argumento é o de que no ano passado a economia mundial crescia a 4% ao ano, contra 3,7% dos 30 anteriores. Numa ponta desse progresso estão os novos ricos. A BMW tem fila de espera na Alemanha porque a fábrica está atendendo pedidos chineses. Na outra ponta, estão centenas de milhões de pessoas que saem da pobreza. Ele estima que em 2025 o Brasil terá mais carros que a Alemanha e o Japão juntos.

Num novo indicador, que reúne variáveis macro e microeconômicas, tais como telefones, internet, computadores, respeito aos contratos, corrupção, estabilidade política, expectativa de vida e educação, em 2010, o Brasil ultrapassou a China e tomou-lhe o primeiro lugar.

O'Neill juntou suas previsões no livro "Growth Map" ("O Mapa do Crescimento - Oportunidades Econômicas nos Brics e Além Deles", com o e-book a US$ 14,99). Veterano da Goldman Sachs, estava lá em 2002, quando produziu-se na casa o "Lulômetro", um indicador terrorista que permitia estimar o preço do dólar se Nosso Guia fosse eleito. Passou o tempo e, depois de destacar que o Brasil saiu do atoleiro graças às reformas de Fernando Henrique Cardoso, ele coloca Lula como "o maior político do G20 na primeira década do século".

O'Neill conta que em 2003, quando esteve em Pindorama, ouviu o seguinte de seu anfitrião: "Você só incluiu o Brasil porque tornava o acrônimo atraente". Não foi bem assim, uma testemunha do diálogo relembra: "Não sei se foi ele quem disse isso ou se, tendo ouvido o comentário, concordou". À época, O'Neill teria ficado em dúvida entre o Brasil e o México, mas MRIC soaria como um grunhido. Ele reconhece que o "B" foi "a maior e a mais audaciosa aposta que fiz" e revela ter sido influenciado pela qualidade do futebol brasileiro. (Em 2002, numa brincadeira de futurologia esportiva, O'Neill estimou que o Brasil não chegaria à final da Copa da Ásia.)

MIAMI 2014

Durante as chuvas de verão que inundaram 137 municípios de Minas Gerais, matando 18 pessoas e desabrigando 47 mil, o senador Aécio Neves estava em Paris. No dia 17, de volta, visitou Ouro Preto.

Bateu pique e no almoço de domingo passado estava em Miami, no La Piaggia, acolhedora casa de pasto da orla, à qual pode-se ir com a roupa da praia. À mesa, tinha o secretário de Transportes do Rio de Janeiro, Julio Lopes.

(Sérgio Cabral était à Paris, mas voltou antes do desabamento na Cinelândia.)

RESPONSABILIDADE

Sempre que ocorrem os desastres das enchentes, governadores e prefeitos dão um jeito de incluir as vítimas entre os responsáveis.

Com o desabamento de três edifícios nos fundos do Theatro Municipal, a conta não poderá ser transferida para as vítimas.

NÃO FOI ELE

A presteza com que a gestão do governador Geraldo Alckmin mobiliza a PM para higienizar a cracolândia e despejar famílias provocou a ressurreição de uma frase maldita ("a questão social é um caso de polícia"), sempre atribuída ao presidente Washington Luiz.

Deposto em 1930 e malfalado durante todo o varguismo, o presidente não comia mel, comia abelha, mas não disse a frase que lhe é atribuída.

Ele escreveu o seguinte: "A agitação operária é uma questão que interessa mais à ordem pública do que à ordem social; representa o estado de espírito de alguns operários, mas não o estado da sociedade".

Washington Luiz morreu em em 1956, aos 87 anos e, por mais que reclamasse, não se livrou da urucubaca.

IMPLANTES

Na segunda-feira, durante uma reunião no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, o doutor Afrânio Coelho de Oliveira, presidente da seção fluminense da Sociedade Brasileira de Mastologia, estranhou a estatística segundo a qual uma pesquisa revelou que o índice de ruptura dos implantes de silicone é de 26% depois de quatro anos, de 47% aos dez anos e de 69% passados 18 anos. Ele prontificou-se para apurar a origem desses números.

Tudo bem. A informação foi divulgada pela Sociedade Brasileira de Mastologia no dia 7 de janeiro, numa "nota à população sobre próteses mamárias francesas da marca PIP" e colocada no seu portal, onde podia ser lida na semana passada. A nota informava que se tratava de "um estudo amplo, com mais de 10 mil mulheres, publicado em 2002". Se os doutores não sabem o que colocam nas suas notas à população, vá-se saber o que colocam no corpo de suas pacientes.

PSTU

O comissariado petista deu-se conta de que as encrencas do PSTU vieram para ficar. Em 2010, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado disputou com candidato próprio a eleição presidencial e teve 84 mil votos.

SAIU MAIS CARO

A área ocupada pelos invasores do Pinheirinho, equivalente a 180 campos de futebol, corresponde a menos da metade da propriedade da massa falida da qual o financista Naji Nahas era sócio. O município de São José dos Campos poderia ter negociado uma mudança no Plano Diretor da cidade, alterando as exigências de ocupação da área. Feito com toda transparência possível, esse mecanismo permitiria a doação da gleba conflagrada e sua consequente urbanização.

A lição de Bianca, a Carol da novela

Bianca Salgueiro, a Carol de "Fina Estampa", fez vestibular de engenharia em duas universidades públicas (UFRJ e Uerj) e uma privada (PUC). Passou em todas, mas optou pela PUC, porque tem curso em meio período. As duas universidades públicas, com horários integrais, não permitem que o aluno trabalhe.

Assim, as escolas grátis, sustentadas pela Viúva, complicam o acesso para quem precisa ganhar o pão de cada dia. Já a universidade privada (e cara) permitirá a Bianca que continue sendo Carol.

Um exemplo para reflexão dos educatecas nacionais: até os anos 70, as dez universidades estaduais da Califórnia eram grátis. Quando o Estado quebrou, passaram a cobrar. A de San Diego pede US$ 53 mil anuais para um curso de engenharia que rende US$ 55 mil para o diplomado.

Os estudantes das escolas apresentaram uma proposta: não desembolsam nada durante o curso e, depois de formados, pagam 5% de sua renda anual durante 20 anos. Quem enriquece resolve o problema em menos tempo. O estudante que fica na Califórnia desconta 4,5%. Se vai para o setor público, ganha um rebate de mais 1%.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.