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Janio de Freitas

Na linha do risco

Nem com a maior capitulação haveria justificativa aos PMs pais que usaram crianças como escudos em Salvador

O pior crime, por muitos pontos de vista, dos amotinados em Salvador perdeu suas características, e as atenções, dado o contraste entre a condição indefesa e forçada de suas vítimas e as violências muito mais exibidas pelo motim. O contraste nada muda de fato, porém.

Na reunião fechada de ontem de manhã com o arcebispo Murilo Krieger e outros, os PMs deixaram claro que sua exigência irredutível passa a ser, à margem das várias postas na mesa, a anistia para os 12 amotinados já presos e para os que venham a sê-lo. Não convém duvidar de que o governador Jaques Wagner se achegue, no final, à possibilidade da anistia -afinal uma- ampla, geral e irrestrita.

Nem com a maior capitulação haveria justificativa possível para os PMs pais que usaram ou ainda usam crianças como escudos, expondo-as a consequências gravíssimas. Foi isso mesmo que PMs amotinados fizeram com seus filhos, ao levá-los para invadir a Assembleia Legislativa e ali mantê-los na ocupação. Em meio a homens exasperados. E armados. E desde logo cientes de que outros homens armados viriam reprimi-los.

Até o momento em que escrevo, sete crianças foram retiradas da sua condição de escudos por ordem judicial. Como não há certeza sobre o número de soldados, mulheres -mães ou não- e crianças na invasão, é incerto que não haja outras crianças entre os amotinados.

Para a forma de abuso covarde feito pelos PMs pais, contra a ingenuidade infantil dos próprios filhos e com tantos riscos implícitos, o Estatuo da Criança e do Adolescente é pouco. Anistia seria ou será ato equiparado à atitude anistiada, se for concedida no acordo buscado pelo governo ou passado um tempinho conveniente, mas já previsto.

NO AR

Mal mesmo, muito pior do que o PT, com os negócios do governo envolvendo os aeroportos de Brasília (674% acima do valor mínimo de leilão), Guarulhos (373%) e Viracopos (160%), ficam a Infraero e o setor militar que a controlou por tantos anos, com os piores resultados em todos os sentidos.

Os ágios bilionários comprovam que a exploração de aeroportos, não só no exterior, é negócio de lucros estupendos. Só aqui foi arrasador. Por quê? Porque o Estado não deve ter e controlar aeroportos. São muitos os países e aeroportos que o desmentem. Ou por incompetência e outros problemas dos que impuseram, como militares e por improvados motivos militares, o domínio da Infraero e sua máquina de faturamento?

Devem ser vários os motivos que têm levado tantos jornalistas a chamar de privatização o negócio feito com os aeroportos e malhar o PT, que a teria feito depois das furiosas recusas a privatizações. Mas nem o governo é petista, como o de Lula não foi, nem o PT é mais PT: é um contingente de uso parlamentar do atual governo, assim como no anterior, sem influência em nenhuma política de governo.

Um longo segmento daqueles jornalistas integra a corrente dos nostálgicos do neoliberalismo, e, para eles, chamar de privatização o caso dos aeroportos é um modo de militância -aliás, constante.

Nenhum aeroporto foi privatizado. Nenhum passou a ser propriedade privada. Ninguém compra um aeroporto por 20 ou 25 anos. Foram feitas concessões para exploração a prazos determinados e, em princípio, prorrogáveis. O dono continua sendo o Estado.

Tal como se dá com canais de rádio e TV, com linhas aéreas, com certas explorações minerais e tanto mais. Mas é bom que os neoliberais se divirtam um pouco, esquecidos dos telefonemas, dos precinhos e outros truques das suas reais privatizações, e se esqueçam um pouco dos sucessos que não esperavam nos adversários.

INCORRETO

Pequeno engasgo técnico fez sair sem meu esclarecimento, no Painel do Leitor, a carta de Jair Pinheiro, professor do departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Unesp. Diz ela que "está incorreta" minha afirmação de que "a imprensa não produz escândalo: usa-o". Considera o professor que "a imprensa não produz é a matéria-prima do escândalo: a corrupção. Dispondo desse material em abundância, ela produz escândalos ao sabor das conveniências políticas de cada um".

A imprensa publica notícia com a matéria-prima de fato captado: um gol, um roubo, um desabamento, (mais) um incêndio de favela. Em menor medida, o pudor ferido, a indignação, o desânimo, eventualmente advindos com o conhecimento do fato noticiado, constituem a reação pública que se chama escândalo.

Refiro-me à imprensa, não à imprensa marrom ou amarronzada, que integra outro capítulo.

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