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Procurador pede fim de ação contra Calmon

Juiz entrou com queixa-crime contra corregedora do CNJ por entrevista em que ela comenta caso no qual ele é investigado

Em sua defesa, Eliana Calmon encaminhou mensagem em que magistrado teria admitido a culpa

FREDERICO VASCONCELOS
DE SÃO PAULO

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, requereu ao Supremo Tribunal Federal a rejeição de queixa-crime ajuizada contra a ministra Eliana Calmon pelo juiz federal Moacir Ferreira Ramos, ex-presidente da Ajufer (Associação dos Juízes Federais da 1ª Região).

O magistrado disse ter sido vítima de difamação e injúria numa entrevista concedida à Folha por Calmon, corregedora do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em 2011.

O jornal revelara no final de 2010 que Ramos era um dos investigados por empréstimos fictícios tomados pela Ajufer na Fundação Habitacional do Exército. Foram usados nomes de fantasmas e de juízes associados que desconheciam a fraude.

Na entrevista, Eliana Calmon confirmou que Ramos havia admitido sua responsabilidade, e afirmou que estava preocupada porque "o caso caminhava para a impunidade".

"Em 32 anos de magistratura, nunca vi uma coisa tão séria", disse, na ocasião.

O episódio marcou um dos primeiros enfrentamentos públicos entre a corregedora e o presidente do Conselho Nacional de Justiça, ministro Cezar Peluso.

Sob o argumento de que Ramos poderia destruir provas, e diante da pressão dos juízes lesados, Eliana Calmon determinara, em novembro de 2010, o afastamento de Ramos do cargo de juiz.

Na semana seguinte, a decisão da corregedora foi referendada, por maioria, pelo CNJ. Mas, na sessão, Peluso criticou a corregedora por se ter antecipado ao colegiado.

No mês seguinte, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, concedeu liminar suspendendo o afastamento de Ramos.

Em julho de 2011, porém, o juiz foi afastado novamente do cargo pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, até a conclusão do processo disciplinar aberto contra quatro ex-presidentes da Ajufer.

Na queixa-crime, Ramos alegou que a ministra empregou "palavras sensacionalistas e de duplo sentido" na entrevista à Folha, "condenando-o publicamente com visível desprezo ao princípio da não culpabilidade".

Em sua defesa, a corregedora anexou correspondência de Ramos na rede dos juízes federais, na internet, em que o ex-presidente da Ajufer admitia a gravidade de seus atos.

Na mensagem postada, Ramos afirmou: "Como pude fazer isto, envolvendo amigos, colegas, pessoas que acreditaram, apoiaram e confiaram em mim?"

Ramos não contestou a resposta de Eliana Calmon. Por isso Gurgel requereu que fosse reconhecida a decadência [perda de prazo para o exercício de um direito] ou rejeitada a queixa-crime, com o arquivamento do inquérito.

Ramos sempre afirmou não ter se beneficiado com as operações entre a Ajufer e a fundação do Exército.

Em janeiro último, ao comentar a queixa-crime, disse que não serão encontrados em seu patrimônio bens ou valores incompatíveis com seu salário.

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