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Análise

Tombo é maior que o esperado, mas situação já não estava boa

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

O diagnóstico de debilidade da indústria brasileira não é novo. Está estampado nos números do setor já há algum tempo, apesar de respiros temporários.

O resultado da produção industrial de janeiro veio como mais um sinal de que a situação não é das melhores, mas assustou pela magnitude da contração mais intensa do que as "expectativas do mercado".

Analistas buscaram explicações no fato de que o mês foi marcado por excepcionalidades (impacto que a troca de motores de caminhões para adequar o segmento a novas exigências ambientais teve sobre a produção e problemas na extração de minérios por conta de chuvas).

Com a expectativa de aceleração da atividade econômica no país, apostam em dias melhores.

Alguns indicadores que antecipam tendências, de fato, apontam uma possível recuperação.

O chamado Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), que tenta prever o comportamento da indústria, teve em fevereiro seu melhor resultado em quase um ano.

A melhora é atribuída principalmente à maior demanda de clientes, de acordo com o HSBC e a consultoria Markit, que calculam o PMI.

A base de comparação, 2011, não é das mais fortes. A indústria brasileira teve um dos piores desempenhos do mundo emergente no ano passado, ficando à frente de alguns poucos países, como a Tailândia, que foi devastada no passado por intensas enchentes.

Voltando a fita mais um pouco, 2010 tinha sido um ano muito bom, mas em larga medida como resultado de estímulos insustentáveis do governo federal para assegurar o "PIBão".

O fato é que oscilações de um mês para o outro, e até de um ano para o outro, muitas vezes não são suficientes para chegar a conclusões sobre tendências estruturais de um setor econômico.

No caso da indústria brasileira, o conjunto da obra dos últimos anos mostra desgaste e também perda de competitividade.

Representantes do setor repetem à exaustão os fatores que prejudicam o setor. Juros altos e moeda apreciada sempre fazem parte da lista.

Uma das armas que o governo parece disposto a usar para estimular a indústria e a economia de forma geral é a redução dos juros para patamares mais próximos da realidade internacional.

O corte da taxa Selic ontem em 0,75 ponto percentual para terreno de um dígito (9,75%) talvez confirme a intenção.

Juros mais baixos podem, de fato, ajudar o setor (tendem a contribuir para o barateamento do crédito e para algum enfraquecimento do real). Mas só se a queda for compatível com um cenário de inflação comportada. Preços em alta, afinal, também corroem a competitividade da indústria.

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