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Porta-aviões usado vira um problema para Marinha Seis incêndios no navio em sete anos deixaram quatro mortos e 13 feridos
Militares enfrentam dificuldades para manter os propulsores a vapor e com a falta DO RIO Maior navio de guerra do hemisfério Sul, o porta-aviões São Paulo virou um problema para a Marinha brasileira, que o comprou da França no ano 2000. Construído na década de 1960, o navio foi adquirido por US$ 12 milhões. Um porta-aviões novo custaria cerca de US$ 1 bilhão. A Marinha tem dificuldades com a manutenção dos propulsores a vapor, usados para fazer o porta-aviões se mover, e com a rede elétrica. Faltam ainda peças de reposição e mão de obra capacitada para realizar consertos. Esses são apenas alguns dos fatores que colocam em risco a vida da tripulação, de cerca de 2.450 militares. Em sete anos, quatro tripulantes morreram e 13 ficaram feridos em acidentes no porta-aviões. Houve pelo menos seis grandes incêndios. No mais recente, em 21 de fevereiro, morreu o marinheiro Carlos Alexandre dos Santos Oliveira, 19. Por causa desse último incêndio, a embarcação está parada no 1º Distrito Naval, no Rio, há 15 dias. Todos os seus 1.800 compartimentos serão fiscalizados, o que deve demorar dez dias, contados da data de início. A Marinha tenta amenizar a questão. "Um navio de guerra com propulsão a vapor necessita de ajustes. Os cuidados adotados durante a sua utilização e os investimentos garantem que sua operacionalidade seja mantida", explica a nota assinada pelo contra-almirante Paulo Alves, da assessoria de imprensa da Marinha. Atualmente existem no mundo 22 porta-aviões em atividade. Eles pertencem às esquadras de nove países. Destes, 11 fazem parte da Marinha dos Estados Unidos. Especialistas ouvidos pela Folha concordam que, ao manter o São Paulo em atividade, o governo brasileiro procura dar demonstrações de poderio militar. Ainda mais quando se pensa na defesa do petróleo do pré-sal e da chamada Amazônia Azul, apontada como área de segurança nacional. Todos fazem coro que a falta de investimentos vem custando vidas. "Investimos pouco e mal, por isso precisamos gastar o tempo todo. O ideal é que fabricássemos nossas peças e diminuíssemos nossa dependência", diz Eduardo Brick, engenheiro e ex-capitão da Marinha. Quando há avaria é preciso comprar peças na França. ESGOTO Há outros problemas. O esgoto produzido a bordo não é tratado. Calcula-se que 800 mil litros diários sejam jogados no mar, sem tratamento, em desacordo com qualquer norma ambiental. Em nota, a Marinha confirma que o sistema de tratamento de esgoto do porta-aviões só será instalado em 2014. "O porta-aviões anda e para. A equipe interna precisa estar bem treinada para coordenar esses movimentos, que aumentam as chances de um acidente numa embarcação com a idade que ela tem", avalia o consultor Rômulo Federici, que atua há 30 anos na área de Defesa Nacional. Federici lembra que, quando foi adquirido da França, a embarcação chegou com o eixo empenado. "Nas manobras, o navio vibrava. Com o tempo piorou", lembra. Esse foi o motivo da primeira reforma, em 2005. Após cinco anos de idas e vindas a estaleiros, o problema não foi solucionado. No acidente que matou o marinheiro Oliveira, a suspeita recai sobre a tinta usada nos dormitórios, segundo o Ministério Público Militar. De acordo com a Marinha, houve um curto-circuito em um ventilador. "Pedi análise para saber se a tinta é inflamável. Se for, contraria todas as regras de segurança", afirma a procuradora Hevelize Pereira, do Ministério Público Militar. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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