Índice geral Poder
Poder
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Esquema de Cachoeira tinha interceptação ilegal de e-mail

Grupo do empresário contratou serviço para ter acesso a mensagens eletrônicas

Suspeita da polícia é que a violação de correspondência pela internet tenha atingido políticos e jornalistas

FERNANDO MELLO
LEANDRO COLON
FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA

Relatórios da Polícia Federal e do Ministério Público Federal afirmam que o grupo do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, contratou serviços de interceptação ilegal de e-mails.

Segundo a investigação, uma empresa de um agente aposentado da Polícia Federal, Joaquim Gomes Thomé Neto, entregava relatórios com e-mails interceptados.

Trata-se da Etesp (Escola Técnica de Segurança Privada), com sede no bairro de Ramos, no Rio de Janeiro.

Essa empresa foi um dos alvos de busca e apreensão durante a Operação Monte Carlo, deflagrada pela PF no mês passado e que aponta Cachoeira como líder de um grupo que explorava jogo ilegal e pagava propinas a agentes públicos.

Foi nessa operação que a PF flagrou conversas de Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (GO). Conhecido por seu discurso de defesa da ética, Demóstenes deixou o seu partido, o DEM, e está sob o risco de cassação.

No mandado de busca e apreensão na sede da Etesp, a Justiça pediu que fossem recolhidos agendas, documentos, computadores e mídias como CDs, DVDs e pen drives, para apurar possíveis crimes, entre eles violação de sigilo e formação de quadrilha.

Na documentação, o Ministério Público e a PF ressaltam que ainda não haviam descoberto os nomes de todas as vítimas. Há suspeitas de que políticos e jornalistas estejam entre os que tiveram seus e-mails interceptados ilegalmente pelo grupo.

De acordo com os documentos obtidos pela Folha, o responsável pela contratação dos grampos cibernéticos foi o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá -apontado pelo Ministério Público Federal como o membro do grupo que levantava informações sigilosas para Cachoeira. Ele permanece preso.

"As investigações descobriram a contratação de Thomé por Dadá para realização de interceptação ilegal de e-mail", diz um dos relatórios do inquérito.

'TEM NOTÍCIA?'

Para a polícia, Dadá e Thomé conversavam apenas por meio de códigos, "mas no contexto das conversas resta claro que falam de correios eletrônicos interceptados ilegalmente".

Em diálogo gravado com autorização judicial às 12h23 do dia 1º de fevereiro deste ano, Dadá quer saber de Thomé: "Você tem notícia aí?". O policial aposentado pergunta qual notícia e Dadá responde "a notícia que você manda todo dia". Segundo Thomé, ele só enviaria no fim do dia ou à noite.

A Polícia Federal informou ao juiz da 11ª Vara Federal de Goiás e ao Ministério Público Federal: "O modus operandi é Thomé passar o conteúdo dos e-mails somente uma vez por dia".

Em outro diálogo, do dia 31 de janeiro, Thomé informa a Dadá que "o negócio parece ser importante". Ele ouve como resposta: "Não, agora, daqui pra frente, só vem coisa importante".

No mesmo diálogo, eles conversam sobre "aquela história do pen drive". Thomé avisa a Dadá que "está se repetindo aí" o conteúdo de uma conversa já captada e repassada ao grupo.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.