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Cachoeiragate / CPI

CPI começa com blindagem a políticos

Lista de depoentes da fase inicial exclui suspeitos de ligação com Cachoeira, entre eles governadores e deputados

Cúpula da Delta também fica de fora; relator fala que prioridade é focar caracterização da 'organização criminosa'

DE BRASÍLIA

Num esforço de blindagem ao governo e aliados, o plano de trabalho do relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), foca na organização de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, excluindo políticos e o comando da empreiteira Delta.

Na reunião de ontem, a comissão aprovou as quebras dos sigilos fiscal, telefônico e bancário de Cachoeira desde janeiro de 2002 e definiu a lista da primeira fase dos depoimentos.

Ficaram de fora da relação o dono da Delta, Fernando Cavendish, deputados federais e três governadores, dos quais dois da base aliada, Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PDMB-RJ).

O governador Marconi Perillo (PSDB-GO), da oposição e citado em conversas do grupo do empresário, também foi poupado nessa primeira fase.

Odair Cunha limitou as investigações sobre a Delta à divisão regional da empreiteira no Centro-Oeste, na figura do ex-diretor Cláudio Abreu, frequente interlocutor de Cachoeira e que foi preso no dia da deflagração da operação, em 29 de fevereiro.

A Delta é a pessoa jurídica que mais recebe recursos da União desde 2007.

"A agenda prioritária buscará caracterizar a organização criminosa do senhor Carlos Augusto Ramos", escreveu Cunha.

Minutos depois, em entrevista, ele negou tentativa de blindagem.

No calendário elaborado pelo relator, os trabalhos da CPI começam com os depoimentos dos delegados da Polícia Federal e procuradores envolvidos nas investigações das Operações Vegas e Monte Carlo, que apuraram os negócios do grupo.

Em seguida, serão ouvidos Cachoeira e seus principais interlocutores.

O único parlamentar a ser ouvido na primeira fase dos trabalhos da CPI é o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), no final do mês.

Com maioria folgada na comissão, deputados e senadores governistas aprovaram o plano de trabalho de Cunha. Três senadores da oposição votaram contra.

Eles defendem a ampliação das investigações iniciais aos demais diretores da construtora Delta.

Outra decisão foi realizar sessão secreta para ouvir os procuradores e os delegados da Polícia Federal.

Na reunião de ontem, o deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR) protestou: "A Delta é envolvida até o pescoço. Não vamos quebrar o sigilo da Delta?".

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) citou que o plano de trabalho da CPI deveria seguir a ordem das revelações já na imprensa. "O lógico seria iniciar com Cachoeira e seus associados na Delta, Cavendish, Abreu, Demóstenes e os governadores de Estado", disse.

O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) trocou farpas com o senador Pedro Taques (PDT-MT) e voltou a criticar a imprensa, chamando de "hipócrita" os que "fornecem informações por debaixo dos panos a alguns confrades".

Collor, com o apoio de petistas e parlamentares aliados do governo, defenderam a convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel -que se recusou ontem a comparecer à CPI.

A oposição acusa o PT de defender a convocação de Gurgel depois que o procurador apoiou no Supremo a condenação de 36 dos 38 réus do mensalão.

"Nós não podemos fragilizar o procurador-geral por causa do mensalão", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O deputado Paulo Texeira (PT-SP), por sua vez, disse que jornalistas que segundo ele "foram cooptados pelo esquema Cachoeira" devem ser ouvidos. Ele não deu nomes, dizendo que "isso tem de ser investigado".

(GABRIELA GUERREIRO, RUBENS VALENTE, ANDREZA MATAIS E MÁRCIO FALCÃO)

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