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Bancos e Dilma têm novo desentendimento

Informativo da Febraban levanta dúvidas sobre possibilidade de governo conseguir ampliar crédito na economia

Bancos desautorizaram texto e disseram ao Planalto que mantêm compromisso de reduzir juros e elevar crédito

VALDO CRUZ
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

Um informativo da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) divulgado anteontem causou mal-estar no governo e levou banqueiros a entrar em contato com Planalto para informar que "não concordam" com o texto.

Nas conversas, eles reafirmaram compromisso assumido na semana passada de trabalhar para reduzir as taxas de juros e aumentar o crédito.

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, tentou falar com a presidente Dilma Rousseff, mas foi orientado a procurar o ministro Guido Mantega (Fazenda). Na conversa com o ministro, o banqueiro não só desautorizou o documento da entidade como disse que mantinha o que havia prometido durante a reunião com Dilma em que foi anunciada a mudança na caderneta de poupança.

Na ocasião, Trabuco tomou a iniciativa de dizer à presidente que o setor financeiro, que vinha de uma disputa com o governo, iria cooperar: "Nós, do sistema financeiro, estamos juntos do governo nesse esforço para reduzir os juros no país", afirmou o banqueiro durante a reunião.

O documento que irritou o governo, divulgado ontem pelo jornal "O Globo", foi elaborado pelo economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg. Nele, o economista diz que não adianta o governo pressionar por aumento de crédito se os consumidores não estiverem dispostos a contrair novas dívidas neste momento de incerteza.

O documento foi visto pelo governo como sinal de uma atitude pouco cooperativa da Febraban.

Dilma reagiu com "estranheza", pois havia considerado a atitude de Trabuco na semana passada como sinalização de "bandeira branca".

Ontem, a equipe de Mantega ironizava a frase de Sardenberg em sua análise, a de que "alguém já disse que você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água".

A frase foi usada pelo economista britânico John Keynes (1883-1946) para dizer que não adianta governos reduzirem juros para estimular o crédito se consumidores e empresários não estiverem dispostos a contrair dívidas.

Assessores de Mantega disseram que isso pode levar a Febraban a "cair do burro". À tarde, a federação soltou nota dizendo que o texto não representa posicionamento oficial da entidade.

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