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BC agora vai divulgar voto de cada diretor sobre a taxa de juros

Iniciativa já era adotada pelo Federal Reserve, dos EUA; Planalto avalia que medida reforça autonomia do banco

BC anunciou que vai disponibilizar, após 4 anos, as informações usadas pelo Copom nas reuniões do colegiado

MAELI PRADO
SHEILA D’AMORIM
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

O Banco Central vai passar a divulgar, a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária no fim deste mês, os votos individuais dos diretores para a trajetória da taxa básica de juros, a Selic.

As informações serão publicadas tanto no comunicado emitido no dia da reunião quanto na ata, divulgada uma semana depois.

A novidade foi anunciada ontem, quando entrou em vigor a Lei de Acesso à Informação, que obriga o governo a responder a pedidos de informação apresentados pela população, sob pena de os servidores sofrerem sanções.

Votam no Copom os sete membros da diretoria colegiada do BC, o que inclui o presidente da instituição, Alexandre Tombini. Após as reuniões, o BC até então divulgava a taxa Selic com o resultado da votação, sem identificação nominal dos votos.

Além dessa identificação, o BC anunciou que também passará a disponibilizar, com defasagem de quatro anos, as informações que subsidiaram o Copom, como apresentações e documentos expostos nas reuniões do colegiado.

A avaliação do governo é que a divulgação individualizada dos votos dá mais proteção aos diretores da instituição contra eventuais interferências políticas, ao mesmo tempo em que aumenta a responsabilidade da equipe.

Para o BC, o diretor que votar contra posições defendidas pelo Palácio do Planalto ficará mais resguardado. Na eventualidade de uma demissão, pode ficar evidenciado que sua saída esteve relacionada com visões diferentes às do governo sobre a condução da política monetária.

Dentro do Planalto, a medida foi vista ainda como uma forma de reforçar a autonomia informal do Banco Central, num momento em que analistas de mercado voltaram a questionar a independência da equipe do BC.

O Federal Reserve, banco central dos EUA, já informa os votos dos seus diretores e também divulga, com defasagem, as degravações das discussões travadas durante as reuniões em que são definidas a taxa básica de juros.

A mudança no Brasil dividiu opiniões de ex-presidentes e diretores da instituição. Para Sérgio Werlang, ex-diretor do BC e atual vice-presidente do Itaú, a decisão é acertada: "Com os documentos, mesmo que defasados, é possível avaliar a análise usada pelo BC na época, o modelo de pensamento", diz. Já o voto nominal, para ele, ajudará a entender melhor pronunciamentos públicos dos diretores do comitê.

"A comunicação do Banco Central com o mercado vai ficar mais clara, e fica mais fácil cobrar os diretores sobre a coerência de suas decisões", diz Jankiel Santos, do Banco Espírito Santo.

Para um ex-diretor que não quer ser identificado, porém, essa decisão irá fazer com que todas as decisões sejam por unanimidade, já que vai ser difícil algum diretor querer se expor a críticas ou pressões de grupos que não concordam com uma posição.

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