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Comissão vai pedir papéis dos EUA sobre regime militar

Documentos de Washington podem esclarecer cooperação com ditadura

Em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer defendeu investigação ampla, 'seja de que lado for'

LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA

A Comissão da Verdade vai solicitar ao governo dos Estados Unidos a liberação de documentos secretos produzidos pelo Departamento de Estado durante a ditadura militar brasileira (1964-85).

O pedido será encaminhado ao National Security Archive (Arquivo Nacional de Segurança), ligado à Universidade George Washington. No final deste mês, o grupo se reunirá com o historiador norte-americano Peter Kornbluh, dirigente da entidade.

A sugestão de ouvi-lo foi feita anteontem, na primeira reunião da comissão, por Paulo Sérgio Pinheiro.

Documentos já divulgados pelo governo americano mostram a cooperação do Departamento de Estado e da CIA com a ditadura brasileira.

Um lote de papéis secretos provou, por exemplo, o apoio logístico da Marinha dos EUA ao golpe que depôs o presidente João Goulart em 1964, na Operação Brother Sam.

A expectativa é que arquivos ainda inéditos revelem relatórios sobre infraestrutura, logística e unidades usadas pelos militares brasileiros.

O órgão de pesquisa procurado pela Comissão da Verdade já auxiliou investigações similares em países como Peru, Chile e Guatemala.

"O Arquivo Nacional de Segurança está pronto e disposto a apoiar essa investigação histórica no Brasil, auxiliando com um pedido à administração Obama para localizar e desclassificar registros secretos sobre a repressão no Brasil", disse Kornbluh.

O historiador é especialista na Operação Condor, parceria das ditaduras do Cone Sul para prender (e matar) esquerdistas. Em 2007, a Folha publicou documentos descobertos por ele que indicam a participação ativa do governo brasileiro na operação.

TEMER

Para evitar expor divergências entre seus sete integrantes, a comissão deve contratar uma assessoria de imprensa. Na semana passada, os escolhidos deram declarações contrastantes sobre a possibilidade de investigar ações da luta armada.

Para a maioria, o foco deve se concentrar em crimes de Estado.

Ontem o vice-presidente Michel Temer defendeu em São Paulo que a comissão investigue "qualquer violação" cometida durante a ditadura, mesmo que não tenham sido cometidas por agentes de Estado. "Sou favorável que se investigue tudo o que é violação de direito humano, seja de que lado for".

Colaboraram KELLY MATOS, de Brasília, e DANIEL RONCAGLIA, de São Paulo

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