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Análise

Caso de Vital do Rêgo expõe a realidade distorcida do Senado

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

Numa empresa com 54 funcionários, demoraria menos de uma hora para que pudesse ser verificado e comprovado se algum empregado estava faltando de maneira deliberada ao trabalho.

O senador Vital do Rêgo, do PMDB da Paraíba, tem 54 funcionários. Desses, 21 trabalham em Brasília e outros 33 em João Pessoa. Todos são pagos com dinheiro público.

Entre os servidores da Paraíba está Maria Eduarda Lucena dos Santos. Ela se se diz coautora do hit "Ai se Eu te Pego", cantado por Michel Teló. O pai de Maria Eduarda falou à Folha e revelou usar o cargo da filha para ficar com o salário e dividir o dinheiro com outros dois colegas jornalistas que fazem assessoria de imprensa de Vital.

O senador negou que a funcionária seja fantasma. Tem como provar? Vai demorar. "Eu tomei a providência cabível, abri uma sindicância interna, liguei para o meu gabinete, pedi as providências. Fui informado de que a funcionária presta o serviço regular, e eles estão tomando as providências na Paraíba."

Quanto tempo até que seja produzida uma resposta conclusiva? "Três ou quatro dias terá o retrato sobre a presença dela", respondeu Vital do Rêgo. Não vai ser fácil. Na Paraíba, os 33 funcionários do senador não estão obrigados a assinar livro de ponto nem a se submeter a qualquer outro controle de presença.

Esses episódio demonstra como dentro do Congresso a realidade é distorcida para favorecer os integrantes do mesmo clube. Fosse na vida real, na iniciativa privada, o empregador que flagra um funcionário fantasma toma uma atitude o mais rapidamente possível. Na política, a dinâmica do tempo é outra.

A das cobranças também. Vital do Rêgo é o corregedor do Senado -responsável por zelar pelo bom comportamento de todos- e também é o presidente da CPI do Cachoeira. Quando o caso de Maria Eduarda surgiu, anteontem, emergiu também a relação de compadrio entre os 81 titulares da Câmara Alta brasileira.

Até ontem nenhum político havia discursado de maneira inflamada e cobrando explicações de Vital do Rêgo. O caso tende a dar em nada, como quase todos os outros da mesma natureza. Até porque é raro passar um ano em que pelo menos um senador não seja flagrado com funcionários fantasmas em seus gabinetes.

A regra tácita é simples: não persiga os meus, e eu não te incomodo com os seus.

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