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Análise

Estratégia do Banco Central depende do desenvolvimento da crise internacional

MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Banco Central foi vingado. O quadro internacional se deteriorou como previam seus diretores, justificando as guinadas recentes da política monetária, sancionando a continuação das quedas de juros pelo Copom.

No entanto, a política monetária brasileira continua sendo conduzida de olhos vendados, e o jogo de cabra-cega com as incertezas externas não é nada divertido.

Alexandre Tombini usou recentemente a expressão "equilíbrios múltiplos" para se referir à nebulosidade do quadro internacional e às dúvidas quanto à intensidade da retomada da atividade doméstica.

Múltiplas possibilidades, inúmeros universos paralelos, saltos quânticos e descontinuidades abruptas assoberbam qualquer um.

Por isso é tão difícil mapear os rumos da Selic, além de afirmar que ela deve continuar a cair.

Muitos acreditam que o ciclo será interrompido quando a taxa básica de juros alcançar uns 8%, o que, com a inflação esperada para os próximos doze meses de 5,5%, significa uma taxa de juros real em torno de 2,5%.

Isto é suficiente para estimular a economia com a intensidade que o governo quer? Na ausência de "ruptura" europeia é possível.

Mas também há espaço, neste caso, para que se alcancem os 2% de juros reais que a Presidente gostaria, uma vez que a inflação de curto prazo está contida.

Isso significaria que o ciclo seria interrompido apenas depois que a Selic chegasse a 7,5%.

E se houvesse o apocalipse europeu? Bem, o governo já deixou claro que lançará mão de todas as medidas de que dispõe para conter o impacto sobre a atividade brasileira, até mesmo da redução da meta sacrossanta do superávit primário.

Em tese, isso pressuporia uma redução mais acentuada da Selic.

Afinal, no último episódio de agravamento da crise, no fim de 2011, o governo disse, enfaticamente, que a primeira linha de defesa seria a política monetária.

Ao menos saberemos, a partir de agora, com a divulgação dos votos dos diretores, se o adjetivo assoberbado para qualificar o Copom significa que ficou "soberbo, altivo, orgulhoso" ou "dominado, abarbado de serviço".

MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE é economista, professora da PUC-RJ e diretora do Iepe/Casa das Garças

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