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Eleições 2012

Erundina questiona apoio de Maluf e critica slogan do PT

Vice de Haddad vê 'mal-estar' com ex-prefeito e 'preconceito' em lema petista

Deputada rejeita papel de figurante na campanha e defende PSB fora dos governos Kassab e Alckmin

FÁBIO ZAMBELI
DO PAINEL

Recém-indicada candidata a vice de Fernando Haddad (PT) à prefeitura paulistana, Luiza Erundina, 77, questiona o papel do provável aliado -e antigo adversário histórico- Paulo Maluf (PP) na campanha e diz considerar o slogan petista, que valoriza o "novo", preconceituoso contra os idosos.

Em entrevista exclusiva à Folha, a ex-prefeita cobra que seu partido, o PSB, deixe as administrações de Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin.

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Folha - Em abril, a senhora se mostrava incomodada com a possibilidade de ser vice. O que mudou?

Luiza Erundina - Nenhum dos projetos políticos dos quais participei foi resultado de vontade pessoal. Foi o partido que construiu esta possibilidade e me consultou. Eu entendi que era mais uma missão que me cabia.

A senhora impôs alguma condição para aceitar?

A condição foi que houvesse consenso entre PT e PSB. Não disputava a condição de candidata a vice. Decidi isso porque nunca me omiti na minha vida. Por mais difícil que fosse a tarefa, não me omiti. Imagina se ficasse fora do processo?

Em nenhum momento negociou sua participação no eventual governo?

Certamente não serei mera figurante. Nem na campanha nem no governo. Vamos gerenciar a cidade juntos, dividindo tarefas e mobilizando a sociedade. Acho que vou ser uma ponte entre o governo e os segmentos mais excluídos.

É uma tentativa de resgatar seu legado, já que sua gestão foi mal avaliada?

São tempos distintos. Eu não acho que saímos do governo com rejeição. Claro que rejeição sempre tem, sobretudo com os compromissos que assumimos. Devo ter contrariado interesses de segmentos que sempre foram beneficiados no governo. Sofri boicote, ameaças.

O que me salvou foi o apoio popular. Tive problemas na Câmara porque tinha minoria. Para ter maioria, teria que fazer concessões éticas e morais. E isso eu não faço.

Mas agora entra numa campanha que faz concessões por alianças, atraindo personagens como Maluf, seu adversário histórico...

Esse é um problema de governos de coalizão. Eu tenho outra concepção de governo. Por mais que tenhamos dificuldades, se isso significar alguma restrição aos compromissos, eu acho que tem um preço que não vale a pena pagar por ele.

A senhora se sentiria confortável participando de eventos ao lado de Maluf?

Não acredito que Paulo Maluf participará de eventos públicos comigo e com Haddad. Isso é contraproducente do ponto de vista eleitoral. Eu evitaria essa situação porque cria mal-estar na relação com o povo, que sabe quem é Maluf, que sabe quem é a direita nessa cidade, que continua no poder reproduzindo privilégios.

Em 2004, a senhora não quis apoiar Marta no segundo turno porque dizia que o debate eleitoral foi pobre. Agora se desenha uma campanha cujos slogans lembram disputa entre o "novo" e o "velho". Isso a desagrada?

Esses valores não são pedagógicos numa campanha. Você termina negando uma realidade que é própria dessa sociedade, em que a terceira idade cresce e exige nova postura e nova forma de ver o problema geracional.

O slogan do "novo" é preconceituoso?

Sim, é ruim porque pode reforçar preconceitos. Em partidos como os nossos temos que lutar para conquistar poder, mas temos que ter ação pedagógica.

Não é um papel menor ser candidata a vice para quem já foi prefeita?

Claro que não. Modéstia à parte, eu tenho o que contribuir. E nossa tarefa não é só administrar, o que nos diferencia é o respeito ao povo.

A senhora conhece Haddad bem?

Não. Ele esteve no governo, se não me engano da Marta. Mas não convivi muito. Acompanhei mais de perto no ministério. É um moço idealista, que tem potencial. A gestão no MEC foi positiva, as dificuldades com o Enem foram mais administrativas. Temos que julgar pelo aspecto político.

Acredita que o PSB deveria deixar o governo Kassab?

Não só o municipal, mas o estadual também. Questão de coerência.

Acredita ter algum papel no engajamento da senadora Marta na campanha?

Vou querer saber pessoalmente os motivos da sua resistência. Temos relação de confiança, respeito.

Seu ingresso preenche a lacuna dela?

Nada disso. Eu sou eu, Marta é Marta. Eu sou o povo, minha origem é nordestina, família pobre. Não sou de família tradicional, nem de sobrenome.

Teme que sua presença nas visitas, sobretudo à periferia, ofusque o candidato, menos conhecido?

As pessoas confiam em mim. Sabem que eu não escolheria ninguém que não vá governar com o povo. Eles me conhecem e confiam nas minhas decisões.

Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1105770

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