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Ex-senador devolverá R$ 468 mi à União

Condenado por desvio de recursos da obra do prédio do TRT-SP, Luiz Estevão fecha acordo para desbloquear bens

Empresário pagará em 96 vezes e poderá negociar patrimônio, avaliado em R$ 20 bi; AGU comemora resgate

DE BRASÍLIA

O governo federal e o ex-senador Luiz Estevão assinaram ontem acordo para devolver ao erário R$ 468 milhões -a maior recuperação de dinheiro público desviado da história, segundo a AGU (Advocacia-Geral da União).

Esse montante corresponde a desvios feitos pelo Grupo OK, de Luiz Estevão, condenado por irregularidades na construção da sede do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São Paulo, em 1992.

Mesmo com o acordo milionário, Estevão continua a negar que tenha feito o desvio -ele foi cassado no Senado em razão do escândalo.

Do interior da Inglaterra, por telefone, ele explicou à Folha porque resolveu pagar o valor que nega ter desviado. "Por incrível que pareça, embora eu negue [o desvio], é melhor pagar e tirar esse aprisionamento", diz Estevão sobre o bloqueio que a Justiça impôs anteriormente ao seu patrimônio para garantir o ressarcimento.

"Tem o 'devo, não nego e pago quando puder'. Eu sou contrário: não devo, nego e pago sob coação."

Segundo o acordo, que não altera os processos penais sobre os desvios, o ex-senador dará R$ 80 milhões de entrada e 96 parcelas de aproximadamente R$ 4 milhões.

Ainda será discutido na Justiça se, devido à rolagem de juros, Estevão terá de fazer novos pagamentos -que podem fazer com que a devolução chegue a R$ 1 bilhão. O ex-senador afirma que pagará mesmo assim.

BILIONÁRIO

Em troca do pagamento, ele poderá trabalhar normalmente com o Grupo OK e negociar seus bens. Terá, entretanto, de oferecer imóveis calculados pelo governo em R$ 1,5 bilhão, para garantir o cumprimento do acordo.

O ex-senador estima o próprio patrimônio em mais de R$ 20 bilhões. Daí a vantagem do acordo: ele paga R$ 468 milhões, mas ganha o direito de negociar imóveis que valem muito mais. São ao menos 1.255 deles, sobretudo em Brasília, cujo m² é um dos mais caros do país.

Se a estimativa de Estevão estiver correta, ele estaria entre os cinco homens mais ricos do país, segundo ranking da revista americana Forbes.

Hoje, o ex-senador, que diz que o acordo foi lucrativo para o TRT, afirma viver dos aluguéis de prédios que ele construiu no "estoque" de terrenos bloqueados pela Justiça.

Além disso, afirma ter como "lazer" ser o cartola do Brasiliense, time da terceira divisão do futebol brasileiro.

Com o acordo de ontem, Estevão pretende dividir sua renda entre aluguéis das salas comerciais e vendas de apartamentos residenciais.

O presidente do TRT paulista, Nelson Nazar, comemorou o acordo. "O TRT de São Paulo precisa desse resgate para reeditar a verdadeira estrutura da Justiça: limpa, célere e transparente. Estávamos com um estigma que agora foi colocado no passado."

(FILIPE COUTINHO)

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