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Ex-diretor diz ter sido 'antiético' ao pedir doações para Dilma

Ex-chefe do Dnit afirma que recolheu R$ 6 milhões de construtoras contratadas pelo órgão federal em 2010

Negociação teria sido um pedido do deputado Filippi Jr., tesoureiro da campanha, versão desmentida pelo petista

DE BRASÍLIA

Ex-diretor do órgão responsável pelas principais obras rodoviárias do país, Luiz Antônio Pagot afirmou ontem à CPI do Cachoeira que negociações de doações para a campanha da presidente Dilma Rousseff das quais ele participou foram antiéticas.

Ele disse ter intermediado R$ 6 milhões em doações de construtoras contratadas pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que dirigiu de 2007 a 2011, confirmando o que já declarara em junho.

Pagot disse, em depoimento de mais de sete horas, que o tesoureiro da campanha de Dilma em 2010, deputado federal José de Filippi Jr. (PT-SP), o procurou em razão do cargo que exercia para ajudar na arrecadação. O pedido teria sido para que procurasse cerca de 40 empresas contratadas pelo Dnit para que doassem recursos à campanha.

Segundo o ex-diretor, a orientação do tesoureiro foi deixar de lado contatos com as grandes empreiteiras.

"Ele disse: 'Não se preocupe com as maiores, que isso é assunto do comando da campanha'", relatou, dizendo-se arrependido. "Percebi o tamanho da bobagem que eu estava fazendo. Embora eu não tenha cometido ilegalidade, se o senhor olhar pelo aspecto da ética, não é ético."

A partir disso, afirma, passou a recusar outros pedidos. Um deles, segundo Pagot, veio de novo de Filippi, após a eleição de Dilma, para cobrir dívidas da campanha.

Antes, diz que já havia declinado de pedidos da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, então candidata do PT ao governo catarinense, e do ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa, como candidato pelo PMDB ao governo mineiro.

Ele afirma que a negativa deixou Ideli "contrariada" e que Costa chegou a ameaçá-lo de sabotagem caso se elegesse, o que não aconteceu.

OUTRO LADO

Ideli e Hélio Costa negaram que tenham feito pedidos a Pagot. O ex-ministro disse, porém, que se encontrou com Pagot e que um assessor pode ter feito o pedido.

José de Fillipi Jr. já disse que as doações à campanha de Dilma foram todas legais. Ele afirmou ter pedido ajuda a Pagot após a campanha para doações de empresas ligadas ao senador Blairo Maggi (PR-MT), seu padrinho político, e nega que tenha feito pedidos durante as eleições.

Em tom de agradecimento, Pagot citou o ex-presidente Lula, lembrando que ele lhe pedira para fazer as obras que o Brasil esperava no Dnit.

Pagot também reafirmou que o ex-diretor da estatal paulista Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, pressionou por acréscimo contratual de R$ 270 milhões, que ele entendia ser ilegal. Paulo Preto será ouvido hoje na CPI.

O ex-diretor do Dnit, porém, diz não ter como provar que o acréscimo financiaria caixa dois no PSDB.

DEMÓSTENES

Pagot também contradisse o dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, cujo depoimento à CPI será hoje.

À Folha, em abril, Cavendish negou conhecer o então senador Demóstenes Torres -que também negou conhecer o empresário. Pagot, contudo, diz que, em 2011, ambos participaram de um jantar no apartamento de Demóstenes, em Brasília, no qual ele estava presente.

O advogado de Demóstenes rebate e diz que ninguém confirma a versão de Pagot. Cavendish não se manifestou.

(BRENO COSTA E FERNANDO MELLO)

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